sexta-feira, 29 de abril de 2005

Os avanços saltitantes

Com as condições de que dispõe, o que é que impede este Governo de avançar com a reformulação da atribuição de alvarás de farmácia e com a despenalização total do cheque?
Compreende-se que a venda de medicamentos que não carecem de receita médica em locais diversos das farmácias e a despenalização do cheque de montante até 750,00 Euros seja um avanço. Disso não há dúvida. Mas dispondo de maioria absoluta, porque não põe em prática a sua própria doutrina e assume o risco de inovar e transformar a sério?
Notoriamente a despenalização do cheque assume propósitos de descongestionamento dos juízos criminais, ao arrepio de qualquer alteração que o desvalor [violação do valor tutelado] tenha sofrido. Aliás, tal despenalização torna o cheque ainda menos seguro como meio de pagamento. Mas se é vontade retirar a emissão do cheque sem provisão da tutela penal, então que se faça de modo esclarecido, coerente e responsável, e se traga à responsabilidade as entidades bancárias que permitem o acesso aos cheques a qualquer titular de conta bancária, não importa com que fundos. Se a banca se tornar responsável pelos montantes dos cheques que por aí distribui [sem embargo de, posteriormente, exercer o seu direito de regresso] não só passará a ter cheque apenas quem tem "crédito na praça" para tal, como, também, se assegura o seu adequado e legítimo uso como meio de pagamento fiável. Ou seja, à mera semelhança do que se passa no resto da Europa Comunitária, onde o acesso a um módulo de cheques é restrito.
Por outro lado, e sem esquecer isto, convirá lembrar que os cheques que, nos termos previstos pelo Governo, deixarem de atafulhar os juízos criminais, irão directos para os, também, atafulhados tribunais de Execução.
É certo que na campanha eleitoral, António Vitorino, qual profeta, alertou que a maioria absoluta não faz milagres. É verdade. A questão está em definir o conceito de milagre.

Há coisas curiosas

A China comunista, entende que a Europa está fazer uma tempestade num copo de água acerca dos têxteis chineses, defendendo que se espere até que o mercado e os seus instrumentos de regulação estabilizem e actuem.
A Europa da abertura ao oriente, da liberalização das trocas, começa a precever-se da concorrência chinesa, a um paço de imitar o proteccionismo norte-americano.
A necessidade não aguça apenas o engenho, mas, também, a dialética.
Tempos curiosos, estes.

Lembrando


[Fonte: MSN Encarta]
Há 25 anos falecia Sir Alfred Joseph Hitchcock, o mestre do suspense.
O acervo cinematográfico legado, atesta a imortalidade que merecidamente conquistou.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [casa]


Último apontamento desta série.
Aqui, não há abandono. Aqui, vive gente.

j.marioteixeira@sapo.pt

quinta-feira, 28 de abril de 2005

Ora, ora

Londres, 28 Abr (Lusa) - O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, minimizou hoje a importância de um documento oficial, divulgado pela televisão, que questiona a legalidade da invasão do Iraque e reiterou que a decisão de participar na guerra foi legal e correcta”. […]
[in Lusa]

Um britânico dizer que a Guerra do Iraque “foi legal”, não é grave. Seria grave, sim, dito por um brasileiro…

j.marioteixeira@sapo.pt

Lembrando


[Fonte: Vidas Lusófonas]
A 28 de Abril de 1889, em Santa Comba Dão, nascia António de Oliveira Salazar.
Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, seria o rigoroso Ministro das Finanças que lhe abriria as portas à Presidência do Conselho de Ministros e a consolidação doutrinal do Estado Novo.
Curiosamente, foi a 28 de Abril, mas de 1945, que Benito Mussolini foi fuzilado e depois mutilado na praça pública, ao lado da sua amante Claretta Petacci.
Há dias assim.

j.marioteixeira@sapo.pt

Há no ar...

... qualquer coisa que impede a propagação do som. Sente-se isso em cada silêncio contemplativo que surge à volta dos avanços e recuos deste Governo. Começou com as datas dos referendos, a serem endossadas para Jorge Sampaio.
Isto parece ser algo mais do que "estado de graça".

Perspectivas [abandono V]


Mais um apontamento rural, ainda dedicado ao abandono, nesta entrada para o sólido vazio.

j.marioteixeira@sapo.pt

quarta-feira, 27 de abril de 2005

Justiça

"Ponta Delgada, 27 Abr (Lusa) - O Tribunal de Ponta Delgada condenou hoje 14 dos 18 arguidos do processo de abuso sexual de menores da Lagoa, São Miguel, a penas entre os 14 anos de prisão efectiva e dois anos de pena suspensa.
O principal arguido do processo, José Augusto Pavão, um pintor de construção civil conhecido por "Farfalha", foi condenado a 14 anos de prisão por 13 crimes, a pena mais elevada decidida pelo Tribunal de Júri, composto por três juízes e quatro jurados.
Ao médico Luís Arruda, que foi delegado de saúde no concelho da Lagoa, o Tribunal da maior cidade açoriana atribuiu uma pena de três anos de prisão efectiva.
O Tribunal de Ponta Delgada absolveu, ainda, três dos 18 arguidos do processo, enquanto um outro arguido apenas ficou sujeito ao pagamento de multa.
O caso remonta ao final de 2003, quando a Polícia Judiciária deteve o primeiro suspeito neste processo, José Augusto Pavão, ao que seguiu a detenção de mais 17 homens da ilha de São Miguel.
Os 18 homens foram todos constituídos arguidos num julgamento que se iniciou a 14 de Março à porta fechada e que terminou hoje com a leitura do acórdão pelo juiz Araújo de Barros
".
[in Lusa]
Para quem queira fazer um comparativo entre a Justiça regular e a mediática, aqui tem um bom ponto de partida.

Rice

"Condoleezza Rice quer uma Venezuela "totalmente democrática", é um dos títulos do Público de hoje.
Presumo que o conceito de democracia de Rice seja o mesmo de Bush: o regime é democrático se for dos nossos.

Lembrando


[Fonte: Amazon]
Anouk Aimée celebra hoje o seu 73º aniversário.
A actriz francesa que se tornou célebre pelos seus sensuais desempenhos em “La Dolce Vita” de Frederico Fellini, e “Lola”, de Jacques Demy.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [abandono IV]


Continuando os apontamentos de ontem, desta vez tomando as vistas do vazio.

j.marioteixeira@sapo.pt

terça-feira, 26 de abril de 2005

Lembrando

Há 21 anos falecia William James “Count” Basie.
Uma referência do jazz e dos blues.

j.marioteixeira@sapo.pt

A utilidade económica na Justiça

Nesta última Sexta-feira foi promovido em Gondomar, pela Delegação local da Ordem dos Advogados, um debate à volta da actual situação da Acção Executiva. Estiveram presentes advogados, solicitadores e funcionários judiciais. Sem surpresa, os magistrados judiciais primaram pela ausência, apesar do convite formal.
Um pouco à margem do debate, que primou pelas queixas dos diversos agentes judiciais, ficou patente um dos graves atentados que, actualmente, sofre o nosso Estado de Direito Democrático.
O actual regime da Acção Executiva, juntamente com o actual Código das Custas Judiciais, espelham o nefasto, aviltante e encapotado princípio em que assentou a lógica reformadora da Justiça dos Governos PSD de Durão Barroso e de Santana Lopes, protagonizada por Celeste Cardona: o Princípio da Utilidade Económica da Justiça.
Reporta-se a algo muito simples: certos direitos não têm real tutela judicial porquanto a sua expressão económica os torna inviáveis. Para exemplificar: dificilmente um advogado aceita mandato de um cidadão para cobrar uma dívida, por exemplo, de € 500,00. A razão é simples: o modo como está articulado o regime processual da Acção Executiva, com o Código das Custas Judiciais, torna o exercício do direito de credor de tal ordem oneroso que o inviabiliza. Na verdade, o encargo que o recurso à Justiça importa nos dias de hoje, leva a que os próprios advogados alertem os clientes para o facto de acções executivas de baixo valor não valerem a pena. Ou seja, devido aos custos que o cidadão têm no recurso à Justiça: honorários e despesas do advogado, custas judiciais que importam, para além das taxas de justiça, provisão para o solicitador de execução. E se isto acontece em sede da acção executiva, onde o credor detém já um título para executar, para ser satisfeito o seu crédito, pior ainda para os créditos que carecem ainda de declaração judicial, que importam ainda uma acção declarativa visando obter um sentença favorável, para depois a poder executar.
Vivemos em clara violação das garantias de recurso à Justiça e da tutela dos direitos constitucionalmente garantidos, contrariando regras básicas de um Estado de Direito Democrático. O que se passa nos dias de hoje, é a triagem económica dos direitos, algo com que não se pode conviver numa sociedade em que se fala de cidadania e se defende o primado da Lei e do Direito.

j.marioteixeira@sapo.pt

Notas de Segunda [atrasadas]

1 – A lista dos agentes do Estado Novo [PIDE-DGS, Legião Portuguesa ou lá o que for] que agora repousa [diz-se…] na Torre do Tombo, teve, para já, o condão de mostrar as nossas dificuldades de lidar com o passado recente. É curioso, no entanto, que seja o próprio António Arnaut vir a terreiro reiterar que se trata de uma lista de agentes. Parece que a questão embaraça mais quem a recebeu [Estado] do que quem a entregou [Maçonaria]. Não é curioso?
2 – As comemorações do 25 de Abril este anos primaram pela descrição. A continuar assim, está em boa marcha a tentativa de esbater da memória colectiva do que levou ao 25 de Abril e do que foi prometido aos portugueses.
3 – O último discurso comemorativo do 25 de Abril de Jorge Sampaio enquanto Presidente da República [PR], primou pela necessidade de se justificar. Com isso perdeu-se o significado profundo que a sua intervenção deveria ter tido. O que está em causa no país não é o carácter semi-presidencialista do nosso sistema político e os especiais cuidados que importam os poderes do PR. O que está em causa é fazer cumprir a Constituição e promover a criação de riqueza que torne tal tarefa possível. As comemorações do 25 de Abril não deveriam ter sido aproveitadas pelo PR para se reconciliar com o Parlamento, num gesto de apaziguamento de fim de mandato.
4 – Ainda acerca da lista dos agentes e de Jorge Sampaio, de registar a preocupação do PR que aquele registo esteja agora em segurança e com acesso restrito. Depois de 30 anos de posse pela Maçonaria, essa preocupação é louvável.
5 – O congresso deu finalmente ao CDS-PP um líder. Pelo menos formalmente.
6 – Ver a classe política a defender, cada um a seu modo, o avanço tecnológico do país, ao mesmo tempo que é incapaz de reformar o ensino e que se vê obrigada a importar médicos do estrangeiro, faz dar ainda mais valor a todos aqueles que nos laboratórios, frente ao seu computador ou perante um quadro de lousa, fazem experiências, programas, cálculos e formulações, inventam e descobrem, nas diversas universidades, institutos superiores, empresas e oficinas deste país. O que prova que o engenho existe, apenas ainda não chegou ao poder.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [S. Gregório]


A caminho de Castro Laboreiro, depois de passar Melgaço, em pequenos apontamentos rurais.
Aqui, temos um espigueiro, onde se guarda o milho e outras riquezas que a terra dá. A base redonda em que assenta evita que os ratos trepem até ao seu interior e comam o que custou a colher.

sexta-feira, 22 de abril de 2005

Lembrando

Há 505 anos, Pedro Álvares Cabral após a travessia do Atlântico, avistava uma montanha que seria baptizada de Monte Pascoal. Era o "achamento" do Brasil.

j.marioteixeira@sapo.pt

"Janela indiscreta"

O desafio foi lançado por José A. Martins no Briteiros, e eu seria incapaz de não responder, lançado que foi naqueles moldes.
Assim sendo, aqui vão as respostas e o rumo.

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Ora, em “Fahrenheit 451” estamos numa sociedade opressiva, em que os livros são considerados um mal. Por outro lado, um livro é sempre um livro, e mandá-lo para a fogueira é algo que choca a quem gosta. Assim sendo, a escolher um livro que seria para queimar escolheria as “Páginas Amarelas”.

Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por uma personagem de ficção?
Na verdade foram duas:
- Sherlock Holmes. Para além dos livros de Artur Conan Doyle, também a série televisiva , onde a personagem é interpretada pelo saudoso Jeremy Brett;
- Corrado Cattani, o Comissário da polícia italiana que combatia a Máfia, na série televisiva “O Polvo” [“La Piovra”], interpretada por Michele Plácido.

Qual foi o último livro que compraste?
História Universal, 3º volume, editado pela Salvat e distribuído às Terças pelo Público.
Qual o último livro que leste?
”Os Corrécios e outros contos”, de Manuel Tiago [Álvaro Cunhal].

Que livros estás a ler?
O “Código Da Vince”, finalmente…

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
”O Principezinho” , de Antoine de Saint-Exupéry, pelas mensagens intemporais que possui;
“A náusea”, de Jean-Paul Sartre, pois em retiro e isolamento totais, talvez o conseguisse ler até ao fim, depois de 2 tentativas falhadas;
“Os Maias”, de Eça de Queiroz, porque é o meu livro favorito do meu escritor português favorito;
“O Espírito das Leis”, de Montesquieu, pela riqueza doutrinal e pragmática, onde é sempre possível descobrir algo novo, algo a questionar, e porque o home é um ser social;
“O Adivinho”, de Goscinny e Uderzo, da série Astérix, pelo retrato mordaz da sociedade de hoje.

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
-
Guilherme D`Oliveira Martins, pelas suas excelentes referências literárias e porque se trata de um modo de interacção na blogoesfera, diferente daquele em que temos trocado ideias;
-
Raimundo Narciso, pelos seus textos e fontes;
-
Roncinante, por natural curiosidade.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [ver de cima IV]


É a cidade de Braga. Vistas de cima, as coisas parecem diferentes.

j.marioteixeira@sapo.pt

quinta-feira, 21 de abril de 2005

Ordralfabetix


[Fonte: Ma BD Favorix]
Título do Público de hoje: "Peixe fresco entra em Portugal sem garantias sanitárias".
Se o peixe é fresco, querem garantias para quê?
Se o peixeiro da aldeia de Astérix fosse vivo...

Lembrando


Há dois anos falecia Eunice Kathleen Waymon, conhecida pelo nome Nina Simone.
Estrela do jazz e dos blues, cantora, pianista, compositora. O seu talento serviu, também, a luta contra o racismo e pela emancipação da mulher, como revela a sua canção"Four Woman":

My skin is black
My arms are long
My hair is woolly
My back is strong
Strong enough to take the pain
Inflicted again and again
What do they call me
My name is AUNT SARAH
My name is Aunt Sarah

My skin is yellow
My hair is long
Between two worlds
I do belong
My father was rich and white
He forced my mother late one night
What do they call me
My name is SAFFRONIA
My name is Saffronia
My skin is tan
My hair is fine
My hips invite you
My mouth like wine
Whose little girl am I?
Anyone who has money to buy
What do they call me
My name is SWEET THING
My name is Sweet Thing

My skin is brownmy manner is tough
I'll kill the first mother I see
My life has been too rough
I'm awfully bitter these days
Because my parents were slaves
What do they call me
My name is PEACHES

j.marioteixeira@sapo.pt

Adeus


[Fonte: DN]
A Edgar Correia, militante de ideais.

j.marioteixeira@sapo.pt

Em breve...

... a resposta ao desafio de José A. Martins, no Briteiros.

Perspectivas [chave e segredo]


Não é um cofre qualquer: é uma das caixas de esmolas do Santuário do Sameiro [Braga]. Tem chave e segredo, um pouco à imagem da teologia.
Todo o cuidado é pouco, para salvaguardar os proventos que ajudam às obras do Senhor.

j.marioteixeira@sapo.pt

quarta-feira, 20 de abril de 2005

Lembrando

Há 82 anos nascia, Ernest Anthony Puente Jr., mais tarde Tito Puente.
Cresceu ao som do jazz e da salsa, e combinou-os com inegável mestria, e tornou-se o Rei do Mambo.
Depois de se despedir da vida em 31 de Maio de 2000, ficaram as suas composições musicais que lhe garantem a merecida eternidade.

Perspectivas [Pai e Filho]


Esta sim, seria uma “conversa em família” com interesse escutar.

j.marioteixeira@sapo.pt

terça-feira, 19 de abril de 2005

Lembrando

A 19 de Abril de 1909 nascia Eliot Ness. Tentou levar Al Capone à Justiça pela violação da Lei Seca e por crimes de sangue, mas seria pelo fuga ao fisco que conseguiria os seus intentos. A sua missão ajudou também a denunciar a corrupção da polícia de Chicago. Mais tarde, em Cleveland, falharia os seus intentos de uma carreira política.
Viria a falecer logo após a publicação do seu livro "Os Intocáveis", em 1957.

RTP: greve, Vaticano e fumo.

A eleição do Papa veio mesmo a calhar: pelo menos assim, a RTP tem com que encher o telejornal e disfarçar a adesão à greve por banda dos jornalistas.
Fumo negro, muito, é o que precisa Almerindo Marques.
Nunca foi tão verdadeira a metáfora da "cortina de fumo"...

Uma boa notícia para os tradutores

"Ministro da Saúde quer recrutar médicos estrangeiros por anúncio" [título da primeira página do Público de hoje].

Perspectivas [anjo e meio]


Guardando o Santuário do Sameiro [Braga].
Melhor do que um, são dois. Não podendo, vale um e meio.

j.marioteixeira@sapo.pt

segunda-feira, 18 de abril de 2005

Na calha


[Fonte: Robert Plant Homepage]
Robert Plant [Led Zepplin] e os The Strange Sensation vão lançar o seu novo álbum “Mighty Rearranger”, nos EUA a 10 de Maio próximo.
Atenção: Robert Plant e os The Strange Sensation irão estar em Vilar de Mouros a 31 de Julho deste ano.
Mais informações aqui.

j.marioteixeira@sapo.pt

Lembrando

Albert Einstein, Prémio Nobel da Física em 1921, o pai da Teoria Geral da Relatividade, com base na pequena mas revolucionária fórmula E=mc2 em cujos cálculos se baseiam as reacções nucleares e químicas, tornou-se um opositor à produção de armas nucleares sofrendo o desgosto da destruição causada pelo bombardeamento de Hiroshima e Nagasaky.
Faleceu há, precisamente, 50 anos.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [recanto]


Há recantos assim. Este é no Bom Jesus [Braga].

j.marioteixeira@sapo.pt

sexta-feira, 15 de abril de 2005

"AINDA WOJTYLA..."

O post de Guilherme D`Oliveira Martins, na sua Casa dos Comuns, conclui assim:
"10. O essencial e o acessório. Personalidade marcante, vontade determinada, figura com forte carisma, João Paulo II protagonizou um activismo internacional que marca a história do final do século XX. Se os seus críticos se sentem incomodados com a sua posição conservadora no tocante a aspectos de organização da Igreja (ministérios ordenados) ou de moral social (meios de prevenção contra a SIDA), a verdade é que a solução para essas questões será encontrada pela Igreja Católica, mais tarde ou mais cedo. No entanto, quanto à democratização da Europa e ao fim da guerra fria, à defesa de uma nova Ordem internacional e da reforma das Nações Unidas, à abertura ao diálogo entre confissões religiosas, à defesa da Paz e do desenvolvimento sustentável, à defesa de um projecto social avançado quanto à dignidade do trabalho, do emprego e à função social da propriedade e do mercado, o Papa foi pioneiro, esteve à frente do seu tempo. Soube, assim, distinguir o essencial e o acessório. Por isso, como disse Timothy Garton Ash, foi um dos grandes líderes internacionais do seu tempo".
Não creio que seja a sua intenção, mas o que transparece é que isso da condenação do uso do preservativo [uso esse que ainda é o meio mais eficaz de travar a epidemia da SIDA] é acessório. Trata-se de algo a que a Igreja, num ritmo que lhe é muito próprio muito instituição verdadeiramente secular que é, irá dar solução.
Ora, o problema é o tempo que passa e se multiplica por milhares de vidas humanas [adultos e crianças] que se perdem entretanto. As vidas humanas que a Igreja Católica, e bem, tanto preza.
A verdade é que se tratou de uma postura irresponsável e alienada da realidade dos dias de hoje, cuja gravidade levou a que destacados membros da igreja Católica se afastassem de tal postura, falando no uso do preservativo como mal menor para evitar um mal bem maior.
Não se trata de uma mera crítica ao falecido João Paulo II, trata-se de algo real: o endurecimento da Igreja Católica e o afastamento da doutrina libertadora.
Repito: não creio que fosse intenção dar como acessória a consequência nefasta e desumana da morte de milhares de seres humanos pela obstinada condenação do uso do preservativo. Mas é um sério risco que corre quando põe sob o mesmo tecto matérias tão diferentes e complexas.

Referendo francês [Chirac]

"La scène se passe peu après 21 heures, jeudi 14 avril, sur le quai de la gare d'Angers. Valéry Giscard d'Estaing, qui vient de tenir une conférence sur la Constitution européenne devant les élèves de l'Ecole supérieure des sciences commerciales d'Angers (Essca), attend le TGV qui doit le reconduire à Paris. Rentrant pour sa part d'une réunion consacrée aux personnes âgées, la députée socialiste du Doubs, Paulette Guinchard-Kunstler, s'approche de l'ancien président. Tous deux échangent alors leurs impressions sur la campagne pour le référendum.
Guinchard-Kunstler parle du meeting qui a réuni, mercredi à Besançon, Pierre Moscovici (PS), Dominique Voynet (Verts) et Daniel Cohn-Bendit. "Cohn-Bendit est très bon !", s'exclame "VGE". L'ancienne secrétaire d'Etat aux personnes âgées du gouvernement Jospin en vient alors à s'interroger sur l'impact de l'intervention de Jacques Chirac, qui a débuté depuis un quart d'heure sur TF1. "Mais il n'est pas crédible !", lâche Giscard, avant de se reprendre : "Enfin, sur ce sujet...
" [...]
[in
Le Monde]

Pelos vistos, Chirac não será um "sage" da matéria". É o próprio Valéry Giscard d`Estaigne [que presidiu à Convenção redactora da Constituição Europeia] que afirma que Chirac não é credível em matéria europeia.
Da minha parte, espero que Chirac intensifique ainda mais a sua campanha pelo "Sim". Quem defende o "Não", agradece.

Referendo francês [o "debate"]


[Fonte: Le Monde]
O debate de ontem é genericamente relatado como dominado pelas questões de política interna. Cada vez se nota que há ainda muito a fazer para aproximar o poder político da população em cada Estado Membro, antes de se dar um passo de gigante que é a Constituição Europeia. Faltam alicerces à verdadeira coesão, faltam raízes. O debate de ontem revelou isso mesmo. Revelou também os receios e pessimismos dos franceses, coisa com que Chirac terá ficado muito admirado. Não é de ficar: é normal que aconteça quando se faz as coisas às escondidas. Um processo mais transparente, participado e representativo teria sido bem melhor. Mas não: ficaram tão convencidos que o que fizeram "era tudo muito bom" [tal como Deus avaliou a sua obra, segundo as Escrituras] que só conseguem ver as coisas a preto e branco: com a Constituição Europeia estamos bem, sem ela estamos no caos.
A fórmula já é antiga: se não se vai lá pela razão, vai-se pelo medo.

Caixa de correio: censura

No passado dia 03 de Abril, como aliás acontece todos os domingos, tinha a telefonia ligada na Antena 1 para ouvir o programa "O Amor é", de Júlio Machado Vaz. Mas para minha grande surpresa e espanto, o programa que fora gravado na quarta-feira anterior, não foi emitido, e sem que fosse dada nenhuma explicação aos ouvintes. Poder-se-ia pensar que não houve programa devido a alterações na programação para a cobertura dos acontecimentos relacionados com a morte do papa que ocorrera no dia anterior. Mas esta razão não pode ser invocada porque os programas que costumam ser transmitidos na manhã de domingo até ao meio-dia, não foram cancelados excepto "O Amor é" convenientemente substituído por um inócuo espaço musical. Por isso interroguei-me se nessa gravação haviam sido abordados alguns dos pontos em que Karol Wojtyla fora mais intransigente como a contracepção, a interrupção voluntária da gravidez, o divórcio, a homossexualidade, o celibato do clero e o magistério ordenado feminino”.
[…]
Alguém decidiu que, no dia seguinte ao da morte do papa, estava fora de questão dar tempo de antena a um tal Júlio Machado Vaz, um sujeito que se ocupa de um tema tão pecaminoso e diabólico como a sexualidade e, como se isso não bastasse, ainda tem o imperdoável defeito de ser um incorrigível livre pensador que não se coíbe de criticar publicamente a santa e madre Igreja.
O que se passou no dia 03 de Abril é de uma extrema gravidade, por configurar um acto censório de todo inadmissível e intolerável num Estado de Direito Democrático, ainda para mais num órgão de comunicação social pertencente ao Estado, Estado esse que tem a obrigação constitucionalmente consagrada de zelar pela garantia de isenção e de liberdade de expressão nos órgãos sob a sua tutela. Volvidos 31 anos sobre o 25 de Abril de 1974, que devolveu as liberdades essenciais aos portugueses, nunca imaginei que um distinto cidadão como o Dr. Machado Vaz viesse a ser vítima da mordaça da censura. Machado Vaz não pede licença a ninguém para exprimir as suas ideias, atitude que muito aprecio e admiro e, por isso, tem toda a minha solidariedade sempre que for atingido por qualquer medida censória sejam quais forem as circunstâncias e as razões invocadas.
Oliveira Salazar morreu há 35 anos, mas as suas ideias continuam bem vivas nas mentes de muitos supostos bem pensantes. A censura salazarenta não morreu, continua a reinar entre nós
”.
Isabel Silva, Lisboa

Esta justa indignação [recebida ontem por e-mail] também se pode ler no Causa Nossa. Mais se refira que no Murcon está o desabafo de Júlio Machado Vaz.
Decididamente há coisas que não mudam por decreto, exigem muito mais luta e atenção.
Obrigado a Isabel Silva, pelo seu contributo.

Lembrando


[Fonte: Hometown]
Nascida em Estocolmo, a 18 de Setembro de 1905, baptizada Greta Lovisa Gustafsson, seria mais tarde uma estrela de Hollywood, com uma intensa actividade. A beleza e exotismo que transmitia, encheu a tela no filme "Mata Hari", em 1931. E após o fim da Segunda Grande Guerra, decidiu afastar-se da ribalta.
A diva faleceu a 15 de Abril de 1990.

j.marioteixeira@sapo.pt

Na calha


[Fonte: Amazon]

Chama-se “A Time To Love” e é o álbum que marca o regresso de Stevie Wonder, a 3 de Maio próximo.

j.marioteixeira@sapo.pt

Pobre entrevista

O país merecia melhor. Não por parte de José Sócrates, mas sim por de Judite de Sousa. Tanto tempo perdido acerca da formação do Governo, à volta de questões tão secundárias. Não admira que não tenha dado para falar de Justiça, Educação, Cultura ou Europa.
Nem sequer se pode dizer que José Sócrates tenha saído beneficiado. Pelo contrário. A atenção dada ao acessório reduziu a acção governativa a um discurso pautado pelos pormenores avulsos.
No fim, apenas duas notas positivas que José Sócrates ainda conseguiu fazer passar: a preferência do futuro sobre o passado e o compromisso do da defesa do interesse geral sobre o particular.
De um serviço público de televisão exige-se mais, mas, possivelmente, não teremos melhor. É como disse o outro: "habituem-se!"...

Perspectivas [toponímia]


No concelho de Póvoa de Lanhoso.

j.marioteixeira@sapo.pt

quinta-feira, 14 de abril de 2005

Bioterra

É o nome deste blogue, cuja missão ecologista merece leitura.
Para mim, confesso que tem um especial sabor, porque me lembra militâncias doutrora.

j.marioteixeira@sapo.pt

Dar música

Abre hoje à noite a Casa da Música, no Porto.
Embora me pareça que a sua localização é absurda, uma vez que não dispõe do espaço envolvente suficiente para aquele volume de construção, gosto das linhas arrojadas e inovadoras. Só é de lamentar que seja exemplo de mais uma incompetente e desastrosa gestão pública [central e local], com derrapagens orçamentais que duplicaram os seus custos [a ver vamos se não será mais grave daqui a uns anos pelos cálculos do Tribunal de Contas…].
Com o devido respeito pelos Clã, Lou Reed e companhia, atendendo ao seu historial, seria uma boa estreia ouvir, também, Alberto João Jardim a cantar “A Mula da Cooperativa”.
Uma última nota: gorou-se a minha esperança de ver Dulce Pontes a inaugurar aquele espaço. É pena.

j.marioteixeira@sapo.pt

Lembrando


[Fonte: Guardian Unlimited Books]
A 14 de Abril de 1987, falecia Simone de Beauvoir, na sua Paris.
A sua intensa e profunda obra fala por si. Um especial relevo para 3 livros: “Une Mort très douce”, “La Vieillesse”, e “La Cérémonie des adieux”. os dois primeiras porque se reportam ao drama da velhice, e o terceiro porque se reporta aos últimos anos de vida do seu companheiro Sartre. São as obras onde Simone de Beauvoir vai para além da sua construção de igualdade natural da mulher e do homem, e aborda a dor e o sofrimento da velhice e da despedida da vida.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Cávado III]


Ainda o Cávado contemplado de Verim, agora mais bucólico.

j.marioteixeira@sapo.pt

quarta-feira, 13 de abril de 2005

Há coisas curiosas [reeditado]

Quando o então Ministro do Ambiente, Nobre Guedes, se referiu à possibilidade de ser necessário um racionamento de água no Algarve durante o Verão, caso este Inverno fosse seco, logo uns tantos autarcas do Algarve, com Macário Correia à cabeça, vieram logo passar um diploma de irresponsável e de ignorante ao então Ministro. Falaram em alarmismo absurdo, etc.
É curioso como agora Macário Correia, anda por aí a defender o racionamento da água e a penalização daqueles que consumirem água em excesso [o que sempre seria curioso definir em termos objectivos].
É por estas e por outras que há gente séria, honesta e competente que nem sequer admite a ideia de assumir cargos governativos.

ADENDA: Este post de 18.03.2005, é hoje reeditado devido a esta notícia do Público:
"A campanha de sensibilização para a poupança de água no Algarve vai começar na próxima segunda-feira com publicidade nas ruas, hotéis e comunicação social e o envio de panfletos para os munícipes, disse uma fonte da organização.
A iniciativa é promovida pela empresa Águas do Algarve, em conjunto com a Junta Metropolitana do Algarve e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região do Algarve.O administrador da Águas do Algarve Artur Ribeiro explicou à Lusa que a campanha decorre até 15 de Setembro e terá duas frentes: uma nas ruas, através de 'outdoors', 'mupis', hotéis e órgãos de comunicação social, e outra através de panfletos enviados para o consumidor sobre métodos para poupar água - juntamente com a factura da água.O Algarve é uma das regiões de Portugal continental onde se regista seca extrema, segundo o último relatório quinzenal do Instituto da Água sobre os efeitos da seca, que analisava a situação do país até 30 de Março".

Ó mãe! Posso ir á manif?

"Esta quarta-feira foi denominada “Dia nacional de Luta contra a política de Educação do Governo” pelos alunos dos ensinos Básico e Secundário.
Em Lisboa, cerca de duas dezenas de alunos concentraram-se no Saldanha para participar numa manifestação contra a aplicação da nova Lei de Bases da Educação e a exigência de se acabar com os exames nacionais do 9º ano.
Depois, seguiram para o Ministério da Educação, a fim de fazerem ouvir os seus protestos. Foi chegando mais gente e já eram centena e meia.
A Delegação Nacional das Associações de Estudantes (DNAE) justificou a fraca adesão ao protesto responsabilizando os conselhos executivos das escolas de "boicotarem a saída dos alunos".
Em Viseu, mais de 200 alunos do Ensino Secundário saíram às ruas da cidade, carregando faixas com as inscrições "Estudantes exigem educação sexual já! Fim dos exames nacionais! Melhores condições nas escolas".
A manifestação concentrou-se junto ao Rossio, em frente à Câmara Municipal de Viseu, e seguiu depois para o Governo Civil.
Na Guarda, os alunos da Escola Secundária Afonso de Albuquerque fecharam os portões com correntes. O protesto seguiu para o Governo Civil, depois de um funcionário da escola ter cortado as correntes.Em Évora e Beja o protesto reuniu cerca de uma centena de alunos de escolas do Ensino Básico e Secundário. A exigência de políticas de Educação "mais justas" foi feita junto dos respectivos governos civis destas cidades
".
[in JN]
É de mim ou sente-se uma certa falta de capacidade reivindicativa dos putos do pré-escolar?

Lembrando

A 13 de Abril de 1987, foi assinada a Declaração Conjunta entre Portugal e China, que previa a transferência de Macau para a administração soberana chinesa a 20 de Dezembro de 1999.
E assim foi.

O desespero


[Fonte: Yahoo]
A visita de Jorge Sampaio a França em clara campanha pelo “Sim” à Constituição Europeia [CE] é uma clara violação de princípios básicos de representatividade nacional. Se o Senhor Sampaio é defensor do “Sim”, pois que faça campanha a título pessoal, assuma claramente que o faz a título pessoal e não como PR de Portugal nem à custa do erário público de um país que ainda não se pronunciou sobre tal matéria.
Como contribuinte tenho o direito de saber a que propósito tenho de pagar uma acção de campanha além fronteiras do PR, seja pelo “Sim” ou pelo “Não”, se o meu país ainda não se decidiu?
O que se está a passar em torno da CE é ilustrativo de que todos os meios servem para se atingir os fins. Começou pelo modo como foi feita, e persiste no modo como quer ser impingida.
Vai assim tão grande o desespero dos defensores do “Sim”, ao ponto de se comprometerem de modo silente com semelhante despropósito?

j.marioteixeira@sapo.pt

Negócios da China

Ao contrário do que se pensa, a necessidade de recurso à cláusula de salvaguarda por banda da União Europeia às importações chinesas, não se reporta apenas aos têxteis. Na verdade se tal cláusula não for accionada outros produtores correm sérios riscos de fecharem as suas portas. É o caso, por exemplo, dos extractores e distribuidores de pedra. A China consegue pôr em Portugal, granito a cerca de metade do preço que ele é transaccionado cá.
Junte-se aos têxteis e à pedra toda a produção que implique custos sociais, e fica-se com a panóplia de actividades em risco.
A abertura ao oriente é criadora de distorções de mercado porque assenta em falsa concorrência. A menos que a Europa se prepare para abrir mão de importantes conquistas sociais, de modo a que se possa concorrer com o preço da mão-de-obra chinesa. Se assim é, a abertura a Oriente não é mais do que um escandaloso retrocesso social, inadmissível e violador de princípios básicos da própria construção europeia. É a negação da Europa social. E por cá é o encerramento de muita indústria e o consequente aumento do desemprego.
Num espaço e mercado livre onde as regras da concorrência se regem de modo tão cuidado e zeloso, não é admissível a demora da União Europeia em tomar uma decisão, ficando a aguardar a análise dos números relativos a importações oriundas da China. Os preços no mercado são por demais elucidativos.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Jumento]


Vejam só quem encontrei em Verim, em plena hora de lazer junto ao Cávado.

j.marioteixeira@sapo.pt

terça-feira, 12 de abril de 2005

Concordo, ou talvez não

Apesar da saudade, não vou recordar o excelente programa da RTP2 conduzido por Mário Figueiredo
e que tinha aquele título.
A história é outra.
Hoje, a meio do meu passo apressado rumo a um compromisso para o qual estava já atrasado, fui abordado por um casal de meia-idade:
- Permita-me que lhe faça uma pergunta – perguntou ele em tom pausado.
Pensando que precisasse de saber onde seria determinada rua ou serviço, interrompi a minha pressa e preparei-me para o teste.
- O senhor não concorda que a juventude corre hoje sérios perigos? – perguntou ele enquanto já ia retirando uns folhetos de papel lustroso com imagens religiosos da sua pasta de mão de cor preta.
Desiludido e meio surpreso, respondi que sim, e que não era só a juventude: eu próprio corria sérios riscos de perder uma marcação caso não retomasse o meu ritmo interrompido. E reiniciei a marcha célere, recusando delicadamente o recebimento de qualquer literatura, de volta à minha rotina.
Concordo que a juventude corre hoje sérios riscos, mas duvido que eu e ele partíssemos dos mesmos pressupostos para tal conclusão.

j.marioteixeira@sapo.pt

“Há algo de podre no reino da Dinamarca”

A afirmação é de Hamlet, mas vale como metáfora aos dias de hoje. É daquelas coisas que atestam a intemporalidade.
A notícia de que a maçonaria detém um registo de 3600 agentes, informadores, bufos, ou que se queira chamar, da PIDE/DGS e que agora pondera entregar ao Estado, salvaguardada que seja a identidade dos que ali constam, levanta um claro abanão na consciência colectiva e uma necessidade de confrontar as consciências com o passado.
Falar em paz social como argumento à não divulgação dos nomes em causa, levanta sérios problemas de consciência e de medo civilizacionais. Até que ponto estamos dispostos a perdoar, a esquecer e a enterrar, ou não teremos nós o direito de que se exponha quem nos fez mal ou aos nossos?
Até hoje vivemos numa aparente reconciliação com o passado, reflexo de algum romantismo que ainda envolve a Revolução de Abril. A reposição das liberdades individuais, da participação popular, da livre associação, como que satisfizeram as nossas necessidades de libertação e de mudança.
Mas será que isso hoje chega?
A sociedade mudou muito da Revolução dos Cravos até hoje, as mentalidades, as necessidades, as ambições. Os ideais históricos endureceram-se em datas de celebração e as conquistas em garantias rotineiras. Mas hoje temos de nos confrontar com o passado, que se pensava enterrado, mas que não estava. O passado nunca está enterrado, nem sequer é sombra. Faz parte da matéria do que somos feitos, está incorporado em nós e sem ele não somos inteiros.
Temos, pois, que viver, com o passado, numa de duas opções: confrontando-o ou evitando-o.
O argumento da paz social para sustentar a confidencialidade, não pode fazer esquecer o sofrimento causado por inúmeras denúncias, as perseguições, as castrações e as mordaças. Mas também não vale para esconder legítimas diversas interrogações, como: qual a veracidade de tal registo e porque é que só agora veio à luz do dia?
Não debater esta matéria é criar uma paz podre, em que alguém confortavelmente decide por nós e nos alivia o peso da responsabilidade. Debater esta matéria carece de coragem e de consciência. Quer um quer outro são perigosos caminhos, manipuláveis e escorregadios. Ficamos, pois, reduzidos à decisão de nos confrontarmos ou não com o passado, para podermos perceber um pouco mais cerca do que somos nós agora.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Cávado II]


Continuando por Verim e pelo Cávado.

j.marioteixeira@sapo.pt

segunda-feira, 11 de abril de 2005

Os profetas da desgraça...

... afinal de contas são os defensores do "Sim" à Constituição Europeia:
"Paris, 11 Abr (Lusa) - O primeiro-ministro francês, Jean-Pierre Raffarin, advertiu hoje que uma vitória do "Não" no referendo francês à Constituição Europeia poria termo à "casa Europa", ao falar do debate televisivo pelo "Sim" que o presidente, Jacques Chirac, realizará quinta-feira com jovens.
"Devemos levar a construção europeia até ao fim. Não devemos acreditar que é possível outra Europa. Se pusermos termo ao que as gerações precedentes construíram, levaremos muito tempo a reconstruir a casa Europa", afirmou Raffarin num encontro com responsáveis municipais e regionais em Antibes (sudeste de França).
Perante as sondagens, que, desde meados de Março, dão o "Não" como vencedor, o chefe do executivo conservador quis confrontar cada eleitor com as suas responsabilidades, ao afirmar que a decisão que tomarem no referendo de 29 de Maio não pode ser "leviana".
Raffarin, que esgrimia um exemplar da Constituição Europeia, pediu um "sim do coração", enquanto enunciava mais uma vez tudo o que, de acordo com os seus partidários, o tratado constitucional traz à Europa e a França.
O referendo, reiterou, "não é um plebiscito" e não é sobre "alternância".
Entretanto, em Rennes (noroeste de França), o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Joschka Fischer, juntou-se ao seu homólogo francês, Michel Barnier, para fazer campanha pela Constituição, advertindo que, "se se ficar com o tratado de Nice (2000), é o fim da União Europeia".
"A decisão francesa é muito importante. Não tem um carácter interno. O futuro da Europa depende desta decisão", disse o chefe da diplomacia alemã, enquanto Barnier defendia, na mesma linha, não se tratar de um debate "franco-francês, mas sim europeu
".
[...]
[in Lusa]
Está visto que se houver chumbo é o fim do mundo. É o retorno ao que temos agora e, pelos vistos, o que temos agora é o fim. Isto parece um parodoxo, um dogma, mas isso é normal nas profecias da desgraça. E o pior é que já se esgotaram os segredos de Fátima [ou será que não?...].
Está fora de hipótese rever o processo que levou à redacção da "bendita" Constituição Europeia. Nada disso. Para a frente é que é o caminho, não importa para onde ele nos leva.
Já só falta vir a Igreja e dizer que votar "Não" é pecado, é sacrilégio
Não se admirem: a génese da Constituição Europeia é paradigmática.

Perigosas sintonias

É do que se trata esta notícia do DN.
São exemplos ilustrativos do que vai de mal no país. São exemplos concretos de influências, compadrios, corporativismos, corrupção, etc. Do muito que há para fazer para limpar as instituições púbicas e, acima de tudo, do quanto é difícil e do quão profundas são as raízes do mal. Tudo quanto ficou por fazer desde o 25 de Abril de 1974: expurgar o Estado.
"O Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais (CSTAF) já recebeu uma certidão extraída da decisão instrutória do processo do "saco azul" da Câmara de Felgueiras relacionada com escutas telefónicas entre o juiz conselheiro Joaquim Almeida Lopes e a ex-presidente da autarquia Fátima Felgueiras. A informação foi adiantada ao DN pelo chefe de gabinete do presidente do CSTAF, o juiz conselheiro Manuel Fernando Serra".
[...]
"Perante estes dados, e perante o relatório final da Polícia Judiciária de Braga (PJ) - que investigou o caso do "saco azul" -, Agostinho Homem, no despacho de arquivamento, considerou que face à matéria recolhida "parece-nos inequívoco que não foi seu propósito impedir a produção de prova em relação a uma pessoa que praticou um crime, mas antes fazer com que se demonstrasse que Fátima Felgueiras não tinha cometido qualquer crime. A conclusão do vice-PGR é retirada mesmo sem realizar quaisquer diligências no inquérito, como, por exemplo, inquirir o magistrado do MP do TAP. Nem o próprio Joaquim Almeida Lopes foi formalmente constituído arguido "(...) A obrigatoriedade de interrogar como arguido a pessoa contra quem corre o inquérito só tem razão de ser se a imputação tiver alguma consistência e estes constituírem ilícito criminal", argumentou Agostinho Homem. Isto apesar de a PJ de Braga sublinhar o "envolvimento directo deste familiar de Sousa Oliveira [ex-marido de Fátima Felgueiras] nas questões investigadas quer pela IGAT quer por esta PJ, e a influência que exerceu no sentido de beneficiar Fátima Felgueiras".Aliás, no processo em que estava em causa uma eventual perda de mandato, relacionada com o empreendimento "Quinta do Bustelo", Almeida Lopes testemunhou a favor de Fátima Felgueiras, "sem hesitação com absoluta tranquilidade de espírito e pela honra de um magistrado que está a falar", sendo que o seu depoimento acabou por ser fundamental no arquivamento dos autos. Um processo, refira-se, em que a principal testemunha de acusação, Maria Sousa Pinto, inspectora da IGAT responsável pela auditoria à autarquia, não foi ouvida, apesar de ter comunicado ao juíz, Aragão Seia (filho), uma série de contratempos com a notificação que a levaram a não estar presente no dia marcado para a sua audição. O MP do TAP também não recorreu da sentença".

"HANS CHRISTIAN ANDERSEN"

É o título do post de Guilherme d`Oliveira Martins na sua Casa dos Comuns.
Excelente evocação esta de Andersen. Recordo com especial gosto cada leitura que faço no regresso ao mundo deste contista. As suas metáforas e os seus encantos.
Infelizmente o conto tem vindo a perder algum terreno, remetido, um pouco, para o esquecimento. Avultam os grandes romancistas, ensaístas, narradores. Mas contistas…
Aproveito para invocar, também, a memória de um ilustre contista português, alvo da minha preferência. Transmontano, republicano, magistrado, político, jornalista, cronista, contista e pedagogo. Também ele, a dado passo da sua vida, sentiu o apelo de Sintra. Homem de ideais, de luta, de esperança e de desgostos, que viria a pôr termo à sua própria vida. Falo de Trindade Coelho, com especial lembrança pela sua obra ”Os Meus Amores” e o seu conto “Abyssus abyssum”.

Na calha


[Fonte: Amazon]
O regresso de Bruce Springsteen, com um álbum intitulado "Devils & Dust", a 26 de Abril.

Mais informações aqui.

j.marioteixeira@sapo.pt

Notas de Segunda

1 – Acerca do congresso do PSD acho que já foi tudo dito: tivemos a eleição de um líder de transição chamado Marques Mendes; um D. Sebastião [com ares de estrela de cinema] chamado António Borges; e, por fim, um partido unido à volta de malditos de outrora. Pelo meio, o discurso redondo [com excepção de Filipe Menezes que ainda foi o único a assumir compromissos concretos], o debate morno e uma moção dita genial reduzida a lugares comuns. A crise está instalada no PSD, confortavelmente, dominando o aparelho, e marcando passo até ao assalto ao poder.
2 – Por detrás dos espectáculos mediáticos do funeral de João Paulo II, do casamento de Carlos e Camila e do Congresso do PSD pouca atenção tem sido dada ao desempenho do Governo, excepção feita a alguma distorção do projecto apresentado pelo Ministro da Saúde. Prevalece, para já, muito ruído.
3 – O FCP abriu mão da faixa de campeão nacional. A questão que ainda fica é a de saber a favor de quem.
4 – As candidaturas a candidatos passam, cada vez mais, pela comunicação social. Desta feita foi Ribeiro e Castro, no CDS-PP. O método é óbvio e simples: anunciar a disponibilidade para se avaliar a receptividade.
5 – O avanço da construção do Muro semita, declarada ilegal pelo Tribunal Internacional de Justiça, é só mais uma manifestação da real indisponibilidade de Israel em chegar a qualquer acordo de paz com a Palestina. Tudo com a bênção do Capitão América.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Cávado]


O Rio Cávado, banhando a praia fluvial de Verim [Póvoa de Lanhoso].

j.marioteixeira@sapo.pt

sexta-feira, 8 de abril de 2005

Lembrando


[Fonte: Jasons Web]
Há 15 anos, nos EUA, estreava a série televisiva de culto “Twin Peaks”, na ABC Network, pela mão de David Lynch.

j.marioteixeira@sapo.pt

Começa hoje...

... o branqueamento político-partidário de Durão Barroso, ou seja o Congresso do PSD. Mesmo porque poderá ser o início de um longo, sereno e concertado processo de preparação de um candidato presidencial para daqui a uns anitos [pelo menos 5 anos, que é o tempo do mandato à frente da Comissão Europeia].
Vamos lá, toca a queimar o Judas [isto é, Santana lopes] que não há tempo a perder: o Governo PS de maioria absoluta está sem oposição à Direita e as eleições autárquicas estão à porta.

Desculpem lá qualquer coisinha...



O antigo chefe do Estado da Guiné- -Bissau, João Bernardo "Nino" Vieira, afirmou ontem aos jornalistas que voltou ao país para "pedir perdão a todos os que magoei no passado". Esta declaração foi feita, sensivelmente, uma hora após ter chegado a Bissau, onde o aguardavam mais de cinco mil apoiantes”. […]

Será que também inclui os que foram magoados de morte?...
[in DN]

j.marioteixeira@sapo.pt

O que é isto?

"Catalina Pestana estava na posse de documentos inéditos que revelam o envolvimento de várias pessoas, ainda desconhecidas, nos abusos sexuais ocorridos na Casa Pia. A provedora confessou ontem que os papéis lhe foram entregues em 2003 por uma das vítimas, considerada o braço direito de Bibi. Os advogados foram apanhados de surpresa, requerendo a junção aos autos. Um dos defensores sugeriu que fossem apreendidos. O dossier apareceu meia hora depois, ficando à guarda do tribunal".
[in DN]
Estes devem ser efeitos do tal "ambiente agradabilíssimo" em que decorre o julgamento. Com um pouco de sorte, ainda terá guardados no fundo de uma qualquer gaveta, filmes, fotografias, confissões escritas, etc.
O grave da questão não são as pantominices de Catalina Pestana. O grave da questão são as funções em que está investida na Casa Pia, e o modo patético como se acaba por lidar com uma tragédia de decadência humana que é a submissão de crianças a práticas e abusos sexuais.

Demo Grafia

Há sinais claros e evidentes de que urge fazer uma reformulação dos pressupostos e mecanismos da Segurança Social. A tendência é para o aumento dos idosos e a queda da população activa.
Mas isto não é só um sinal claro e evidente em sede de Segurança Social. É também sinal que o conceito de família se começa a perder por entre custos e encargos.
"Bruxelas, 08 Abr (Lusa) - Portugal será um dos países da União Europeia (UE) com maior percentagem de idosos e menor de população activa em 2050, segundo dados do Eurostat que apontam para um aumento de portugueses até 2018.
As projecções da população 2004-2050, divulgadas hoje em Bruxelas, traçam um cenário em que a percentagem de idosos portugueses praticamente duplicará entre 2004, em que representavam 16,9 por cento da população, e 2050, em que chegarão aos 31,9 por cento.
Segundo o Departamento de Estatística da UE, os países do sul da Europa registarão as percentagens mais elevadas de pessoas com mais de 65 anos a partir do meio do século, bem como a menor quantidade de trabalhadores.
Em 2050, Portugal será o quarto país da UE a 25 com maior percentagem de idosos, só ultrapassado pela Espanha (35,6 por cento), Itália (35,3) e Grécia.
"Os países mediterrânicos continuarão a verificar uma baixa taxa de natalidade, conjugada com uma esperança de vida longa e com saúde", justificou em conferência de imprensa o director da unidade de Demografia do Eurostat, Konstantinos Giannakouris.
A natalidade, mortalidade e os fluxos migratórios são precisamente os factores tidos em conta para as projecções europeias, que o Eurostat analisa com "precaução", atendendo ao longo período de análise.
Em termos de população activa (jovens e adultos entre os 15 e os 64 anos), Portugal será, em 2050, um dos três países com a menor percentagem (de novo com a Espanha e Itália), na ordem dos 55 por cento da população, cerca de 12 pontos percentuais menos do que em 2004
". [...]
[in Lusa]

Perspectivas [horta]


Uma das hortas que persistem em plena cidade do Porto. Neste caso, junto à Calçada da Arrábida. Uma ruralidade urbana que é, também, acervo da memória portuense.

j.marioteixeira@sapo.pt

quinta-feira, 7 de abril de 2005

E depois?

Um dos mais importantes elementos da informação é a actualidade. Daí que acabe por ler com algum desprezo derrotista certas descobertas do Tribunal de Contas, como esta:
"O Exército desviou para despesas correntes um quarto das verbas da Lei de Programação Militar (LPM), destinadas a programas de reequipamento do Grupo de Aviação Ligeira (GALE) e Brigada Aerotransportada (BAI), revela um relatório do Tribunal de Contas (TC).
O TC estima que 55 milhões de euros, do total de 220 milhões de euros afectos aos dois programas para o período 1998-2001, tenham sido desviados dos fins previstos
".
[in JN]
Ora, sete anos volvidos, é caso para perguntar: e depois?

Lixo

Todos os dias deito papel ao lixo. Papel [re]transformado em publicidade não endereçada na qual não vislumbro qualquer utilidade pessoal e que, invariavelmente, vai parar ao caixote do lixo. Todos os dias, sem excepção. Faz parte da rotina.
Como eu, outros haverão.
Como eu outros também já terão tentado, em vão, obter nos correios o saudoso autocolante para pôr na caixa de correio. Seria uma boa lembrança de José Sócrates a de recuperar aquela sua ideia. E não traria qualquer contestação que fizesse perigar o calmo silêncio em que vai correndo a governação.

j.marioteixeira@sapo.pt

Júdice no seu melhor

Via Blasfémias, tomei conhecimento que no Jornal de Negócios, temos José Miguel Júdice no seu melhor:
"José Miguel Júdice diz que o Estado e as Empresas Públicas deviam ter de pelo menos consultar as três maiores sociedades em Portugal sempre que precisam de advogados.
Em entrevista publicada hoje no Jornal de Negócios, advogado diz que nenhuma das três «quer privilégios», mas sempre o Estado ou Empresas Públicas têm de escolher advogados, «pelo menos que consultem estas três sociedades.»
Júdice refere-se à PLMJ, de que é sócio, à Vieira de Almeida & Associados e à Morais Leitão, Galvão Teles Soares da Silva & Associados
".
Se Júdice acha que a sua sociedade de advogados deve ser chamada pelo Estado, que comece então pelo Apoio Judiciário: vá para a barra dos tribunais defender os pobres e os carenciados. Afinal de contas estaria apenas a concretizar o papel de servidor do Direito e da Justiça que é um advogado. Claro que só iria receber o dinheiro do seu trabalho passado um ano ou mais. Mas enfim, temos de ser uns para os outros.
Vá lá! Dê o exemplo! Mesmo agora que já não é Bastonário em exercício ainda vai a tempo de dar um bom exemplo.
Compreende-se que se sinta agora um pouco abandonado, sem os seus amigos da Direita no Governo. Compreende-se que a sua auto-estima ande tão por baixo que agora já defenda o Estado intervencionista, gerador de investimento e de riqueza. O Estado clientelar.
Além que revela a grave crise que atravessa o exercício da advocacia: se até Júdice tem de mendigar trabalho [a um passo do subsídio], imagine-se como vão os outros...

Perspectivas [almas II]


Desta feita em terras minhotas.

j.marioteixeira@sapo.pt

quarta-feira, 6 de abril de 2005

O que temos


A entrevista de Carmona Rodrigues ao DN é interessante, mas não tão surpreendente quanto aquele jornal, certamente, gostaria que fosse.
Desde já uma apreciação prévia: a escolha da foto na edição online é claramente depreciativa para o entrevistado.
Uma praxis que se assemelha à Toyota: veio para ficar.

j.marioteixeira@sapo.pt

Na calha


[Fonte Amazon]
O novo álbum de Mariah Carey, chamado "The Emancipation of Mimi", será lançado no próximo dia 12.
Mais informações aqui.

j.marioteixeira@sapo.pt

Estado e Religião

No Causa Nossa, Vital Moreira tem defendido, e muito bem, a saudável separação entre o Estado e a Religião.
Acontece que há muito que essa separação é cada vez mais ténue. Aliás, duvido que hoje em dia não haja inauguração promovida por qualquer autarquia que não conte com água benta. Dantes eram só os cemitérios e as capelas mortuárias, estendendo-se depois aos quartéis de bombeiros. Hoje vão mais além, salpicando bibliotecas e pontes. Tornou-se um fenómeno revivalista que, aos poucos, lá vem vindo.
Acredito que deve ser cada vez mais difícil exercer o legítimo direito ao ateísmo. Nem sequer há onde se possa velar um corpo sem a presença de sinais religiosos.
Num país que se defende tanto que os outros não têm o direito de incomodar com o seu fumo as narinas dos outros, é interessante ver como se convive com este espírito de “imposição democrática”.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [abandono III]


Esta casa situada em S. Pedro da Torre, com uma soberba vista sobre o Rio Minho, ostenta uma lápide que a apresenta como propriedade da Brigada Fiscal. Está abandonada, violada, devassada.
É pena, no mínimo.

j.marioteixeira@sapo.pt

terça-feira, 5 de abril de 2005

Na calha


É o novo álbum dos Garbage, chama-se “Bleed Like Me”, e será lançado a 12 deste mês.

j.marioteixeira@sapo.pt

"O VOTO FRANCÊS"

É o título do post de Guilherme d`Oliveira Martins, na Casa dos Comuns, que começa assim:
"A Europa está dependente da decisão do referendo francês sobre o Tratado constitucional europeu. O perigoso avanço do não nas sondagens das últimas semanas provoca inquietude e perplexidade. Para surpresa de todos, não se ouve uma argumentação clara e coerente".[...]
A argumentação coerente e clara de quem defende o "não" existe, é só querer ouvir.
Outra coisa, claro está, é acharmos que a verdade das coisas só está de um lado, e que as soluções boas são as nossas. Sem mais. Foi também a pensar assim que foi conduzido parte do debate dentro da própria Convenção, onde houve quem retirasse os auscultadores dos ouvidos quando havia críticas ao rumo que os trabalhos estavam a levar. Pergunte-se a José Pacheco Pereira se isso é verdade ou não.
É de reparar os estragos que a Directiva Bolkestein fez às contas de Chirac: os povos continuam preocupados em preservar as suas reservas de soberania e as suas protecções porque desejam uma Europa de nações e não uma "nação europeia". Se assim não fosse, a Declaração de Laeken não teria expresso a sua preocupação em que os futuros procedimentos fossem transparentes e abertos à participação popular, como modo de ultrapassar a famosa "Encruzilhada". Ora, o modo como foi redigido Tratado Constitucional Europeu é a negação disso mesmo.
Que o Tratado sofre de patente falta de legitimidade democrática e de participação popular é algo que resulta da nossa história recente, e não há citação que possa valer ou metáfora possa esconder.

Perspectivas [fim de tarde III]


Mirado em pleno centro urbano.

j.marioteixeira@sapo.pt

segunda-feira, 4 de abril de 2005

Referendo francês


Este é o gráfico da evolução das sondagens acerca do referendo francês sobre a Constituição Europeia, publicado pelo Le Monde.

j.marioteixeira@sapo.pt

O fim de um pontificado e a esperança de um novo

A morte de Karol Wojtyla [o ser humano tornado Papa] e toda a sua agonia nitidamente transformada e explorada em mensagem e paradigma pela Santa Sé, foi o culminar de um pontificado marcado pela aproximação pacificadora a outras religiões, mas também pela obsessão pelo combate ao comunismo e da afirmação da ortodoxia imutável.
Compreende-se que perante a morte, se aplaudam os melhores feitos, se exaltem as virtudes e se desvie o olhar das faltas. Compreende-se em momento de nojo, de consternação pela morte de um ser humano. Mas deverá acabar aí, ao invés de se fazer disso procissão de fé.
O longo pontificado de João Paulo II deixa a Igreja Católica preza a um culto à agonia, ao sofrimento e à dor, ao invés de promover a alegria da vida. Não seria esse o intento do Papa, mas foi este o aproveitamento feito pelo Vaticano. Foi o elogio do sofrimento e da penitência, do calvário.
Foi ainda um pontificado marcadamente anticomunista, que se prima pela preocupação em restabelecer as liberdades individuais, também chegou ao ponto de criar perigosas relações entre o Banco Ambrosiano e o Banco do Vaticano, para apoio financeiro ao “Solidariedade” de Lech Walesa, que veio a culminar no assassinato de um banqueiro, em simulado suicídio sob um ponte londrina.
Foi ainda o pontificado de condenação sem tréguas ou concessões ao uso do preservativo, em atitude cega e irresponsável perante a realidade dos dias de hoje [e de então] com especial relevo para o Continente Africano.
Foi ainda o pontificado do aproveitamento final das aparições de Fátima, reconduzindo o terceiro segredo à própria pessoa de João Paulo II [o “homem de branco” que sofreria uma tentativa de assassinato].
Foi o pontificado da ascensão da Opus Dei nas estruturas da Santa Sé, resultado necessário e claro de uma doutrina eminentemente dogmática e hierarquizada.
Lamento a morte de Karol Wojtyla, como é sempre de lamentar a morte de um ser humano. Mas recuso o branqueamento do seu longo pontificado, como tem vindo a ser promovido nos últimos anos, explorando a sua debilidade física, a sua idade e a sua persistência.
Importa agora almejar um sucessor reformador e clarificador, que saiba recuperar a mensagem cristã por entre o dogmatismo empedernido do catolicismo, e o concilie com os tempos de hoje. Isto se a estrutura da Santa Sé o permitir.

j.marioteixeira@sapo.pt

Lembrando



Tanto tiempo disfrutamos este amor
nuestras almas se acercaron tanto asi
que yo guardo tu sabor
pero tu llevas tambien sabor a mi

Si negaras mi presencia en tu vivir
bastaria con abrazarte y conversar
tanta vida yo te di
que por fuerza tienes ya sabor a mi

No pretendo ser tu dueno
no soy nada yo no tengo vanidad
de mi vida doy lo bueno
yo tan pobre que otra cosa puedo dar

Pasaran mas de mil anos muchos mas
yo no se si tenga amor la eternida
pero alla tal como aqui
en la boca llevaras sabor a mi


Assinalou-se ontem o 36º aniversário do falecimento de
Álvaro Carrillo.

j.marioteixeira@sapo.pt

Notas de Segunda

1 - Todo o fim-de-semana foi dominado pela morte de João Paulo II. Compreende-se. Pouco mais ou mesmo nada se passou em Portugal ou no resto do mundo que pudesse rivalizar tempo de antena. O problema está que a mensagem que começa a latejar um pouco por todo o lado é a de santificação de Karol Wojtyla, tornando o seu pontificado como um exemplo a seguir. É o pior que pode acontecer no futuro próximo da Igreja Católica: a continuação de uma doutrina fechada às essências das tragédias humanas como a SIDA e a pobreza.
2 – Com o anúncio da morte do Papa, assistiu-se a manifestações absolutamente anacrónicas, como foi o caso do Bispo de Leiria que comentou que João Paulo II já teria encontrado os Pastorinhos e beijado a Irmã Lúcia. São formidáveis as fontes privilegiadas de informação de que certas pessoas dispõem.
3 – O novo Código da estrada está já em vigor, e percebe-se já que houve muito boa gente que foi enganada com a história dos coletes reflectores.
4 – O processo de pedofilia nos Açores correu sem incidentes de maior, longe dos julgamentos encenados pela comunicação social e de modo sereno e regular. O afastamento insular por vezes também se manifesta de modo positivo.
5 – O Público passou a ter acesso condicionado. Quem presta um serviço tem o direito de se cobrar dele. Todavia terá também aquele jornal um preço a pagar: a mais que provável redução drástica das citações e das ligações na blogoesfera. Fica em risco o seu estatuto de jornal de referência, mas certamente que se trata de uma opção legítima e calculada.

j.marioteixeira@sapo.pt