quinta-feira, 23 de setembro de 2004

A queda da folha

A chegada do Outono, trouxe consigo a queda de algumas folhas que vão deixando ver um pouco mais como vai a governação em Portugal. Já dá para ver que, afinal de contas, o anterior governo governava mal: o adeus com lenços brancos aos 3% do défice; a colocação dos professores e o sistema de financiamento do Serviço Nacional de Saúde, são alguns exemplos recentes.
A grande novidade não é que este governo culpe o anterior pelos descalabros do presente. Tal não seria nunca uma novidade mas sim um clássico retórico do nosso modo de fazer política. A novidade reside no facto deste governo ser sustentado pela mesma coligação partidária que sustentava o anterior. É uma nova versão, mais sofisticada e abrangente, do adágio “a culpa morre sempre solteira”. E a razão de assim ser é muito simples: o actual governo não pode ser culpado pelos erros do governo anterior; e o anterior governo já não existe para ser culpado. Nesta lógica nenhum deles, anterior e actual, poderá ser, um dia, julgado nas urnas. Formalmente, falando claro.
O Outono ainda ontem começou, apenas algumas folhas caíram. O que mais ainda haverá, escondido?

j.marioteixeira@sapo.pt