terça-feira, 28 de setembro de 2004

A teoria política da culpa em Portugal

Há uns anos atrás, não posso precisar quantos, por motivos profissionais, li uma participação de sinistro automóvel de um condutor que, pese embora tenha sido o autor de um acidente de viação, não assumia a culpa pela produção do mesmo. Não me recordo dos pormenores da sua argumentação, mas uma coisa ficou na minha memória: à guisa de conclusão, o tal condutor afirmou que não viu a viatura na qual embateu porque o sol o encandeou, logo a culpa foi do sol!
Na nossa política passa-se um pouco do mesmo: a culpa é sempre de outrem, de alguém que, de preferência, em relação à qual não se possa fazer nada de concreto, perdurando assim um certo sentimento de impunidade. A nova versão, protagonizada pelo actual governo, é a de deitar culpas para o anterior cujas linhas e princípios assumiu continuar. Aliás, cuja continuidade foi exigida pelo "Vigilante de Belém" no processo de sucessão.
Em princípio, atingiríamos o ponto máximo da teoria política da culpa, pelo que a classe política iria ter de reflectir e exercitar a sua imaginação pois por este caminho não haveria espaço para inventar muito mais. Mas não, temos sempre, por exemplo, o sol para culpar.

j.marioteixeira@sapo.pt