O camarada que se segue
A propósito de Carlos Carvalhas ter anunciado que não continuará mais como Secretário-Geral do PCP, lembrei-me do dia em que o conheci: foi durante a campanha eleitoral para as presidenciais de 1990, em que era o candidato da CDU. Conheci-o perto da terra de onde é natural, S. Pedro do Sul, no Vale do Vouga. Constatei as diferenças abismais que tinha em relação àquele homem que em 1992 iria substituir no lugar de Secretário-Geral do PCP, Álvaro Cunhal. Simpático, atento, conversador, mantinha sempre aquela reserva de quem é naturalmente introvertido.
Naquela altura fiquei algo apreensivo acerca do seu futuro como Secretário-Geral do PCP que já se adivinhava [em 1990 era já Secretário-Geral Adjunto], da sua capacidade em assumir o lugar de Álvaro Cunhal. Comparei as personalidades e os estilos. Lembrei-me, então, do dia em que conhecera Álvaro Cunhal, num jantar nos Jardins da Escola de Belas-Artes do Porto, do seu olhar penetrante, do seu à-vontade, do modo como falava para quem quer que fosse de forma convicta e segura.
Seria muito complicado para Carlos Carvalhas suceder a Álvaro Cunhal. Seria e foi.
Apesar da falta de carisma, Carlos Carvalhas conseguiu conduzir o seu exercício de Secretário-Geral com bastante serenidade face às adversidades que o PCP sofreu perante as profundas transformações que se deram nos países comunistas e que provocaram convulsões no seu interior. Mas não se pode deixar de perceber que conseguiu, no limite, travar a decadência da representatividade eleitoral do PCP ao invés de a inverter, e há muito que é preciso mais do que isso.
Quem vier a suceder Carlos Carvalhas, será reflexo da capacidade ou incapacidade do PCP em se renovar e em assumir os desafios que se seguem, bem como sobre o estado do aparelho partidário e da sua vitalidade ou letargia.
Certo é que quem vier, irá resultar da forja conjunta do Comité Central e da Comissão Política, será produto acabado do centralismo democrático que perdura. Aguardemos.
j.marioteixeira@sapo.pt
j.marioteixeira@sapo.pt
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