quinta-feira, 14 de outubro de 2004

A propósito de censura, de Santana Lopes, das eleições regionais, do referendo, …

O divórcio entre a população e a classe política já é sabido, não constitui novidade para ninguém. Ele existe tanto pelo progressivo afastamento da população em relação aos partidos políticos, quanto pela governação ou gestão autárquica. Já se sabe.
O discurso oficial de que é necessário trazer de volta a população à política, ao interesse pela coisa pública, é redondo e insípido pois a verdade é que pouco interessa à classe política a participação do povo, excepto se for nas suas fileiras partidárias, aí sim. De resto, são exercícios de boas intenções que já se tornaram clássicos, e nada mais.
O povo dá jeito nos actos eleitorais e respectivas campanhas, nas inaugurações, nas sondagens, e pouco mais. Principalmente para os actos eleitorais e respectivas campanhas. É a época das acções de rua, dos beijos, dos apertos de mão, das saudações, das multidões, dos palcos, dos discursos, dos aplausos, dos sorrisos, dos brindes, dos panfletos, etc. Depois é o retorno ao trono, aos gabinetes e às “responsabilidades” investidas. Findam as palavras de ordem, os timbres enérgicos. Finda o fantástico, a surpresa e o sonho. E o discurso muda, torna-se cinzento, redundante, elaborado e de circunstância.
Uma das razões do afastamento do povo da classe política é esta comunicação sazonal que existe nas épocas de campanha eleitoral. Por curtos períodos, toda a gente consegue perceber o que os políticos dizem por que eles precisam de se fazerem entender, é imperioso que o façam pois assim ditam as sondagens. Têm de ser claros, objectivos e directos, fazendo passar a sua mensagem. Mas depois tudo finda.
Não é defender a via demagógica, populista, das palavras fáceis, dos discursos que ficam no ouvido. É defender a clareza de intenções e a humildade de se reconhecer que se faz parte do povo, ainda que com um mandato para governar em seu nome. É esta falta de humildade e esta soberba vertiginosa que impede a comunicação, tantas vezes resultante dos microfones, dos holofotes e das câmaras.

j.marioteixeira@sapo.pt