quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

A “co-ligação” [III]

Fazer um acordo pré-eleitoral para vigorar após as eleições, dá azo a uma dúvida natural: como serão geridas as palavras de ordem e os discursos?
A existência de um acordo pré-eleitoral de vigência pós-eleitoral, é, também, fruto de uma diferença profunda de eleitorados entre o PSD e o CDS-PP. Eleitorados diferentes importam palavras e abordagens diferentes. É impossível que tal não aconteça. É impossível que questões como o aborto ou o Tratado Constitucional Europeu não sirvam para esconder as profundas diferenças que dividem o que hoje parece unido.
A necessidade de PSD e CDS-PP motivarem o seu eleitorado trará ao de cima as diferenças entres os dois partidos de modo mais fragilizante do que nas últimas eleições legislativas: antes ninguém sequer esperava um governo PSD/CDS-PP, pelo que as diferenças entre os dois não foram esmiuçadas. Ao contrário de agora que certamente o serão.
Acresce que nas últimas eleições legislativas, ficou a pairar a ideia de que muita gente não teria votado no PSD se soubesse que Durão Barroso iria fazer governo com o CDS-PP. Uma ideia que veio ao de cima em momentos de patente desconforto entre os dois partidos, como foi no caso do aborto e de posteriores iniciativas parlamentares sobre essa matéria.
Neste acordo firmado entre PSD/CDS-PP, o único que se arrisca a perder alguma coisa é o PSD, pois Paulo Portas soube sempre cuidar do seu eleitorado e, assim, do seu partido.

j.marioteixeira@sapo.pt