sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

A Oriente tudo de novo [II]

Num Concelho como Vila Nova de Famalicão, onde a indústria têxtil suporta grande parte das economias domésticas, não haverá família que não tem um parente ligado à indústria têxtil [empresário, trabalhador, agente, etc.]. Para quem vive neste concelho o facto de ter sido firmado o acordo que prevê o fim das barreiras aduaneiras aos produtos oriundos da Organização Mundial do Comércio, concretiza e exemplifica em termos muito simples o que é a globalização.
Com a integração de Portugal na então CEE, Portugal recebeu importantes contributos financeiros para reestruturar a sua economia. Muita coisa foi feita, sem dúvida, mas o piro é que muito do essencial ficou por fazer. A indústria têxtil foi e é um exemplo do essencial que ficou por fazer. E o essencial que ficou por fazer passou, também, pela atitude conivente do poder político face aos desvios de fundos comunitários para fins alheios. A subida em flecha da venda, por exemplo, de Ferraris em Portugal deu-se ao mesmo tempo que fundos comunitários eram distribuídos por regiões industriais ligadas ao sector têxtil e do calçado. Nestas coisas não há coincidências: muito dinheiro dos fundos comunitários foi desviado sem que alguém respondesse por isso. Mais: foi o próprio Primeiro-ministro de então, Cavaco Silva, que vociferou no Parlamento que não admitia a ideia de que Portugal era uma país de corruptos. E não era. Mas que os havia, lá isso havia.
Quem vive num Concelho como Vila Nova de Famalicão, sabe que durante os governos de António Guterres, muitas empresas têxteis causaram distorções no mercado com a atitude conivente do Estado: não é possível a uma empresa cumpridora com as suas obrigações fiscais, concorrer com outras que se furtam aos seus compromissos. O laxismo da máquina fiscal nos Governos de António Guterres, sustentou empresas sem viabilidade e permitiu que outras, cumpridoras, ficassem dependentes dos financiamentos da banca por via de contas caucionadas e de avais pessoais dos sócios gerentes, numa contraditória e desastrosa tentativa de combate ao desemprego.
Para quem vive num Concelho como Vila Nova de Famalicão, sabe que a atitude irresponsável de Durão Barroso em apregoar aos quatro ventos que Portugal estava de tanga, fez com que o natural pessimismo português aliado a alguma falta de escrúpulos de alguns, foi o suficiente para provocar a descapitalização de empresas e o encerramento de outras. Pelo meio, ficaram facturas por pagar, cheques sem provisão e letras sem amortização. Um ano depois do discurso da desgraça, do discurso da tanga, no Concelho da Trofa, Durão Barroso entusiasmava as hostes do seu partido a falar em optimismo e esperança, criticando o pessimismo. Veio o célebre “perdão fiscal” e os compromissos de apoio às PME´s e à modernização industrial. Ao fim de 2 anos de governação, Durão Barroso foge para Bruxelas e entrega-nos a Santana Lopes.
Quem vive num Concelho como Vila Nova de Famalicão, ou em qualquer outro Concelho de Portugal, sabe muita coisa, só não sabe como enfrentar estes novos ventos do Oriente.

j.marioteixeira@sapo.pt