segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

Rui Rio e a soberba da genialidade [II]

Continuando o que escrevi aqui .
Rui Rio e Pinto da Costa não se entendem. É um facto dado como assente. Sendo assim, porque é que Rui Rio, volta meia volta, ao invés de privilegiar o silêncio e a elevação, prefere acicatar?
Está no direito dele, pode acicatar quem lhe apetece. O que não tem é o direito de fazer o discurso do combate aos “interesses instalados na cidade” e do separatismo entre o futebol e a política, para depois “mandar bocas” para as bandas do Dragão.
Para qualquer portuense, a imagem que começa patentear é a de um senhor muito fino e inteligente que quer vir ensinar como é que nos devemos comportar, de quem devemos gostar e com quem nos devemos dar bem. Um discurso de paternalismo estúpido e arrogante, ainda para mais de quem chegou, viu e venceu sem saber como, mas que está claramente convencido que é o mais inteligente e honesto de todos.
Aliás, é tão grande a sua inteligência e a sua visão, que Rui Rio ainda não percebeu duas coisas básicas que se estão a passar com a cidade do Porto: deixou de ser a referência que era na região norte e perdeu qualquer capacidade de influência em Lisboa.
Como se não bastasse, Rui Rio tem agora recorrido à mentira demagógica, chegando a afirmar que os socialistas fugiram e deixaram a cidade cheia de obras por concluir. É mentira e Rui Rio sabe que é mentira, sabe que mente. Mas mente falando com a convicção que está a dizer uma verdade. Os socialistas não fugiram, antes perderam as eleições, perderam a câmara. Rui Rio sabe isso por razões evidentes. E também sabe que se quer falar de políticos que fogem, poderia lembrar-se do seu amigo Durão Barroso. Esse sim, fugiu.
Não bastou a gestão de Nuno Cardoso, cujo comportamento em relação a interesses imobiliários à volta do Parque da Cidade revelou quem realmente é, para agora ter de se aguentar um Rui Rio demagógico e populista, com ares arrogantes de iluminismo?

j.marioteixeira@sapo.pt