sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

Rui Rio e a soberba da genialidade

"Defesa através de Lisboa"
"Não discordando de António Marques, Rui Rio lembrou, neste âmbito, a Área Metropolitana do Porto, mas frisou que “sem se atribuir orçamento e competências o papel de articulação regional não é tarefa fácil”. O autarca completou a ideia indicando que, não havendo regionalização, a defesa do Norte é feita em Lisboa”. “Membros do Governo do Porto cidade devem ser para aí uns 10, o que é fundamental e nunca tivemos o volume de investimentos públicos que temos hoje”, adiantou o autarca, questionando: “Ser a segunda figura do maior partido não dá também influência para lutar por esses interesses?
[...]
"Somos fraquíssimos em termos de afirmação política. O Porto é excessivamente bairrista no mau sentido do termo. Bairrismo na política é bacoco e, por isso, o Porto não pode conquistar a sua credibilidade no País.
[Rui Rio]
Se houvesse a hipótese da capital mudar para o Porto, acho que nenhuma cidade apoiaria ( ) Temos de ganhar o respeito e o apreço dos outros. Temos de ser o contraponto quando Lisboa centraliza.
[idem]

"O Porto não conquistou a sua credibilidade no País, nem o pode fazer com o bairrismo típico, dizendo que o melhor é o futebol. Não é uma boa política". A justificação para a falta de protagonismo da cidade foi ontem apresentada pelo presidente da Câmara do Porto, no ciclo de conferências "Olhares Cruzados sobre o Porto", uma organização conjunta do jornal Público e da Universidade Católica. A juntar a esta, Rui Rio apresentou outra: "O Porto só diz mal de si próprio".
António Marques, presidente da Associação Industrial do Minho (AIM) acusou os políticos e as élites de não terem acompanhado a mudança estratégica da evolução económica e da importância de trabalhar "em rede". Admitindo gostar do Porto, mas ainda mais do Norte, António Marques fez um diagnóstico do problema: "O Porto foi, é e será sempre o centro de uma região, mas houve uma evolução das outras cidades a desfavor do Porto e a elite não percebeu essa evolução".
O gestor deixou ainda um conselho ao autarca: "Olhe mais para o Norte e não se preocupe tanto com o Sul. É importante olhar para Braga, Guimarães, Barcelos, Viana e até para a Galiza. O Porto tinha muito a ganhar se esta clientela o aplaudisse". Ao que acrescentou: "A dimensão do Porto não se vê por ter Gaia ou não ter. Está mais na cabeça das pessoas do que no território".
O gestor defendeu uma maior abertura do Porto às cidades vizinhas e, dentro da cidade, entre as empresas e as Universidades. "O mundo não começa nem acaba no Porto. Tem que ter um olhar cruzado e integrado com outras cidades", realçou".

[in Comércio do Porto]

A imprensa tem dado maior importância à nova picardia entre Rui Rio e Pinto da Costa, em detrimento ao que verdadeiramente interessa à cidade do Porto. É compreensível: as emoções vendem mais do que os raciocínios.
Algures no discurso do Presidente da Câmara do Porto, começa a soar um tom demagógico de quem já pensa muito em Fevereiro [além de Outubro].
Fosse Rui Rio alguém com melhor capacidade para ouvir, e já teria aprendido alguma coisa. A continuar assim, ainda vai demorar mais algum tempo…

j.marioteixeira@sapo.pt