segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

Sinais dos tempos de hoje [III]



O idealismo do fim da Guerra Fria vai, aos poucos, decaindo. Sinal que a queda de um muro vale como simbolismo de referência e pouco mais. Os velhos métodos continuam, operantes, frios, calculistas e oportunistas. São os meios, feitos à imagem e semelhança dos fins. A vantagem é que agora a realidade é mais pardacenta, menos definida, permitindo a camuflagem que outrora não existia.
A tentativa de assassinato, por envenenamento, de Yushenko é um claro sinal que se acumula a outros. O problema é que o volume de informação que nos é dado a consumir, com o inebriante efeito de choque das imagens, seduz a nossa memória a reter o mais recente, dificultando a articulação dos factos.
Em 2000, aquando do afundamento do submarino Kursk, vimos imagens de uma mulher de um dos tripulantes a reclamar o esclarecimento da verdade, frente às câmaras de televisão, num qualquer auditório em que se encontravam, talvez, centenas de familiares da tripulação. A dada altura do protesto, aquela mulher que falava energicamente, cai desfalecida. Alguns dias depois, pela análise das imagens recolhidas, fica demonstrado que alguém lhe terá injectado uma qualquer substância que provocou aquele feito, de modo despercebido a olho nu.
As técnicas permanecem as mesmas, sempre a soldo e a interesse de alguém. Agora já não se chama KGB, mas a escola é a mesma. Apenas uma desvantagem: dantes havia um nome para chamar, agora não.

j.marioteixeira@sapo.pt