segunda-feira, 3 de janeiro de 2005

Elementos essenciais da notícia catastrófica

Tudo começa por uma evento trágico que abre os telejornais e que irá preencher as primeiras páginas dos jornais, durante dias ou mesmo semanas. Ao momento da “estreia”, há desde logo preocupações essenciais:
1 – Localizar a catástrofe;
2 – Quantificar as vítimas [com maior relevo paras as mortais];
3 – Aferir se há portugueses entre as vítimas [o que é normal, porque há portugueses espalhados pelo mundo inteiro].
4 – Acompanhar qualquer relato com as imagens chocantes que estejam disponíveis no momento, repetindo-as até à exaustão.
Entretanto, começa a correria desenfreada atrás dos vídeos amadores, para que mais imagens disponíveis de medo, terror, dor e sofrimento consigam transmitir a magnitude da desgraça [que importa que seja grande].
Surgem as primeiras divulgações das contas bancárias onde se podem fazer donativos, a par dos apoios governamentais. As primeiras imagens dos contentores de ajuda humanitária e da sua distribuição
Ao mesmo tempo que se enviam repórteres para o local que tentam, eles próprios, personificar a catástrofe sucedida, e que vão fazendo perguntas às vítimas tipo “teve medo?” ou “o que sentiu na altura?”
Depois do primeiro impacto, temos as actualizações:
1 – Do número de vítimas;
2 – Do número de portugueses atingidos;
3 - Das causas da desgraça;
4 – Os relatos dos enviados, ora com imagem ora por telefone.
À medida que as imagens se vão gastando pela passagem sucessiva aos olhos dos telespectadores, começa-se a apurar eventuais responsabilidades humanas na desgraça que, afinal, não teve só a ver com causas naturais.
Mais tarde, já sem imagens novas ou relatos desesperados, é tempo de mudar de assunto.

j.marioteixeira@sapo.pt