Endividamento privado e [ir]responsabilidade política
“O endividamento privado é um problema privado. Os políticos não têm nada com isso. Preocupem-se com o endividamento público”.
[ in Blasfémias]
Ao contrário do que defende João Miranda, sou da opinião que o endividamento privado é também responsabilidade da classe política.
O endividamento privado não surgiu por gestação espontânea, tendo sim raízes em desastrosas políticas dos últimos 15 anos.
Com a entrada na CEE pensou-se que os problemas estavam resolvidos, viriam os fundos comunitários e tudo ficaria bem. Não foi assim. Aliás não foi nada assim. As debilidades da nossa economia espelham bem quanta responsabilidade política houve quer na atribuição dos fundos quer na falta de sanção a quem utilizou para fins indevidos os mesmos fundos. De uma ou outra forma, a economia portuguesa continuou carente da devida modernização para que pudesse responder ao embate da concorrência de mercado cada vez mais feroz.
Pior, nos últimos 15 anos, apesar de todos os discursos de aposta na formação e na investigação, a indústria portuguesa sustentou a sua capacidade concorrencial na contenção dos custos de mão-de-obra, ou seja na contenção salarial. Salários magros que perduram até hoje, e que se manifestam desde logo no salário mínimo.
Se juntarmos a isso um apelo especial ao consumo como modo de vitalizar a economia e autêntica passividade política face aos constantes apelos ao endividamento por parte da banca, desde as contas salários que adiantam o vencimento do mês seguinte até ao financiamento para fazer extensões no cabelo ou comprar colchões ortopédicos, poderemos nós continuar a afirmar que o endividamento privado não é da responsabilidade da classe política?
Se juntarmos o facto de ser o próprio Estado a dar claro exemplos de despesismos em obras faraónicas ou em jobs for the boys, poderemos afirmar que a classe política não tem nada a ver com o endividamento privado?
Houvesse maior rigor na aplicação dos fundos comunitários e a nossa economia estaria bem melhor do que está hoje, seríamos capazes de criar mais riqueza e, consequentemente, termos mais riqueza para distribuir. Agora, com uma economia débil, que não foi capaz de se revigorar devidamente e com salários baixos, estamos à espera que as pessoas não contraiam dívidas? Estamos à espera que sejam capazes de viver apenas com o seu salário e ter casa e carro como vêm as demais famílias europeias a ter? Estamos à espera que sejam imunes ao consumismo com que são bombardeados todos os dias?
Criticar a falta de cuidado e de responsabilidade por parte daqueles que pedem sem poder pagar é uma coisa, agora apagar a responsabilidade da classe política é outra completamente diferente.
j.marioteixeira@sapo.pt
[ in Blasfémias]
Ao contrário do que defende João Miranda, sou da opinião que o endividamento privado é também responsabilidade da classe política.
O endividamento privado não surgiu por gestação espontânea, tendo sim raízes em desastrosas políticas dos últimos 15 anos.
Com a entrada na CEE pensou-se que os problemas estavam resolvidos, viriam os fundos comunitários e tudo ficaria bem. Não foi assim. Aliás não foi nada assim. As debilidades da nossa economia espelham bem quanta responsabilidade política houve quer na atribuição dos fundos quer na falta de sanção a quem utilizou para fins indevidos os mesmos fundos. De uma ou outra forma, a economia portuguesa continuou carente da devida modernização para que pudesse responder ao embate da concorrência de mercado cada vez mais feroz.
Pior, nos últimos 15 anos, apesar de todos os discursos de aposta na formação e na investigação, a indústria portuguesa sustentou a sua capacidade concorrencial na contenção dos custos de mão-de-obra, ou seja na contenção salarial. Salários magros que perduram até hoje, e que se manifestam desde logo no salário mínimo.
Se juntarmos a isso um apelo especial ao consumo como modo de vitalizar a economia e autêntica passividade política face aos constantes apelos ao endividamento por parte da banca, desde as contas salários que adiantam o vencimento do mês seguinte até ao financiamento para fazer extensões no cabelo ou comprar colchões ortopédicos, poderemos nós continuar a afirmar que o endividamento privado não é da responsabilidade da classe política?
Se juntarmos o facto de ser o próprio Estado a dar claro exemplos de despesismos em obras faraónicas ou em jobs for the boys, poderemos afirmar que a classe política não tem nada a ver com o endividamento privado?
Houvesse maior rigor na aplicação dos fundos comunitários e a nossa economia estaria bem melhor do que está hoje, seríamos capazes de criar mais riqueza e, consequentemente, termos mais riqueza para distribuir. Agora, com uma economia débil, que não foi capaz de se revigorar devidamente e com salários baixos, estamos à espera que as pessoas não contraiam dívidas? Estamos à espera que sejam capazes de viver apenas com o seu salário e ter casa e carro como vêm as demais famílias europeias a ter? Estamos à espera que sejam imunes ao consumismo com que são bombardeados todos os dias?
Criticar a falta de cuidado e de responsabilidade por parte daqueles que pedem sem poder pagar é uma coisa, agora apagar a responsabilidade da classe política é outra completamente diferente.
j.marioteixeira@sapo.pt
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