segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

Miguel Torga - 17 de Janeiro de 1995

Denúncia

Acuso-te, Destino!

A própria abelha às vezes se alimenta

Do mel que fabricou...

E eu leio o que escrevi

Como um notário um testamento alheio.

Esvazio o coração, cuido que me exprimi,

E vou a olhar o poço, e ele continua cheio!

Acuso-te e protesto.

É manifesto

Que existe malvadez ou má vontade!

Com a mais humilíssima humildade,

Requeiro, peço, imploro...

Mas trago às costas esta maldição

De sofrer com razão ou sem razão,

E de não ter alívio nas lágrimas que choro!

["Penas do Purgatório", 1954]

Miguel Torga [Adolfo Rocha] faleceu há 10 anos.

ADENDA: ler também em Briteiros.

j.marioteixeira@sapo.pt