quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

"Os Senadores" por Pacheco Pereira

Num daqueles exercícios "repentinos" de enorme lucidez e precisão, a que já nos habituou por diversas vezes Pacheco Pereira, o seu artigo "Os Senadores" no Público denuncia a essência do que faz falta ser denunciado, aberta e publicamente. Tanto mais porque é ele próprio, Pacheco Pereira que o faz.
Particular relevo para este trecho:
"Existem nos sindicatos, nas fundações, nos partidos, na comunicação social, nas associações empresariais, nas fundações, nos grandes grupos económicos, nas ordens profissionais, nos grandes escritórios de advogados, nos clubes de futebol, nas autarquias, na "cultura" organizada. É normal que seja assim em democracia, o que não é normal é que seja tão difícil exercer a autoridade democrática contra eles, ou para além deles, quando é necessário pelo bem comum".
"É que isto não vai com pactos, porque se fosse já tinha ido. O sistema político é suficientemente racional para que se fosse possível, numa mesa de negociações, unir PS e PSD para diminuir as despesas de saúde, ou de segurança social, ou modernizar a administração pública - as diferenças ideológicas, que já são pequenas, não impediriam um acordo em cinco minutos. O problema é que por detrás de todos os "problemas" estão interesses de todo o tipo, a começar pelos interesses económicos poderosos e a acabar pelos "interesses" da pobreza, do remedeio, da baixa qualificação, do mundo protegido da competição, da preguiça, da apatia, típico das sociedades excessivamente dependentes do Estado e do subsídio - se sobrevivo assim, mais ou menos, porquê arriscar um mundo que me pode ser mais hostil? Os partidos políticos estão mergulhados nestes interesses, a montante e a jusante, e, frágeis como são, precisam de "comprar" eleitorado com a promessa de que nada muda na mediocridade".
Divergências de lado, assumo o meu profundo reconhecimento em tudo quanto Pacheco Pereira escreveu naquele artigo, apenas com uma ressalva: um poder político forte só será possível com políticos que não fujam nem choraminguem.