Sinais dos tempos de hoje [IV]
Este fim-de-semana, li uma frase de muro clássica: “Abaixo o governo!”. De cor desbotada, de um vermelho já pálido e disforme, lá continua agarrada a um muro de uma fábrica encerrada há muito, voltada para a estrada. Era assim. O governo não agradava, não importa porque razão, logo se pedia a sua queda. O furor dos brados revolucionários deu calor às palavras de ordem, mas com o passar do tempo foi-se diluindo.
Hoje não fica bem pedir a demissão do governo, não faz parte do actual conceito de discussão política, muito mais urbano, muito mais dialéctico e conceptual. Outras tantas vezes conjuntural. Excepto para o PCP ou o Bloco de Esquerda, ainda mais arreigados à génese da frase do muro.
Agora o método é o do desgaste de governação ou da liderança partidária, aguardar pelo enfraquecimento do adversário. Uma vez enfraquecido, desgastado, desacreditado, a mudança torna-se quase inevitável. A mudança surge como alternância, como quem muda de turno. A engrenagem, essa pouco se altera.
j.marioteixeira@sapo.pt
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