terça-feira, 25 de janeiro de 2005

Sinais dos tempos de hoje [VIII]

Assiste-se ao esvaziamento da discussão da coisa pública. Está fácil de ver que em época eleitoral ganha mais relevo a picardia do que o debate, o mexerico do que a clarificação.
Nesta área o PS tem especial responsabilidade, uma vez que lhe cabe demonstrar que votar no PS é votar na mudança e não na redundância. Cabe ao PS apresentar soluções claras e precisas para o que urge ser resolvido e quais os rumos que visa marcar para o médio/longo prazo. No fim de contas, tem que se assumir como projecto de governação aos olhos dos eleitores, de modo a que possa dizer “merecemos a vossa confiança porque queremos fazer isto e aquilo, desta e daquela forma”.
Uma das melhores formas do PS se assumir como projecto de governação, seria debater com os demais partidos políticos com assento na Assembleia da República, de modo a que também os obrigasse a assumir compromissos.
Lamentavelmente o PS furta-se a esse confronto em sede de debates televisivos. Ao contrário, bipolariza o debate político com o PSD, talvez para mostrar que Sócrates fala melhor, é mais esperto, é mais responsável, é mais estudioso, do que Santana. O que é uma falácia: o que interessa não é que Sócrates seja melhor do que Santana, mas sim que as suas ideias e soluções sejam melhores para o país. Isto é, deveria ser isto o interessante. Mas está visto que não é.
Esta fuga a um debate mais amplo revela arrogância, valoriza o adversário e, pior, denuncia fragilidade. Além de que transforma o debate político numa luta de nomes e imagens.
Sempre seria interessante saber o seguinte: se fosse Santana Lopes a tomar essa atitude o que diriam os seus críticos? O que diria muita gente da Esquerda em intelectual defesa debate político amplo e plural?
Esta é uma clara vantagem com que parte Sócrates: ainda não têm críticos (e muito menos de estimação), o que lhe possibilita agir como age sem que seja apodado de irresponsável ou de imaturo.
Acontece que estas eleições representam aquilo em que se transformaram as eleições legislativas: um concurso em que o prémio é o destino do país por quatro anos.
A mim preocupa-me o sentido que as coisas estão a tomar. Há sinais claros e distintos deste novo modo de fazer política que atravessa toda a ementa partidária: o resumo aos nomes e respectivas imagens. O CDS-PP anunciou um "elenco governativo" antes de apresentar qualquer programa eleitoral. Até mesmo o PCP já usa a imagem de Jerónimo de Sousa nos cartazes da CDU. A resistência à tentação mostrou os seus limites.
Para além disto, temos uma outra moda: a moda os choques. Começou por ser a do "choque fiscal", agora é do "choque tecnológico" e do "choque de gestão". Resta esperar que a moda siga até um "choque eléctrico" que depure a nossa política.

j.marioteixeira@sapo.pt