terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

O pudor

Fátima representa um importante marco da Igreja Católica na Península Ibérica, congregando fiéis de todo o mundo. A construção do Santuário de Fátima e as obras que se encontram em curso denunciam, sem margem para dúvida, a importância que Fátima tem, suas aparições e seus segredos, os seus devotos, as suas procissões. E diga-se sem hipocrisia as suas esmolas e proventos. Porque Fátima também é isso: fonte de rendimento da Igreja.
A última protagonista do mistério de Fátima faleceu, mas quem visita o site oficial da Santa Sé não vislumbra qualquer referência ao caso. Convenhamos: as aparições de Fátima são um importante acervo dogmático da Igreja Católica. Um acervo de fé e de redenção, de agregação e de culto. Não faleceu apenas Lúcia: faleceu aquela que segundo está estabelecido pela própria Santa Sé, terá falado com Nossa Senhora, Mãe de Jesus Cristo!
A falta de pudor do PSD, do CDS e também do PS no aproveitamento da morte da Irmã Lúcia será criticável. Embora o uso de tal crítica com fins políticos/partidários também o é. Mas não estaremos também perante uma enorme falta de pudor quando se fala de Fátima, de crianças, de visões, de clausura, de medalhas, de crucifixos, de livros de oração, de excursões, de velas e de esmolas? Uma falta de pudor que nos leva a velar no silêncio as dúvidas, as críticas e as indignações?
A falta de pudor começa no pesado silêncio que se põe a tudo quanto importa perigo reflectir. E esse pesado silêncio é de culto, não acaba nas urnas como a campanha eleitoral.