Os três lados da moeda
Conforme prometido ontem:
O fim destas eleições auspicia tragédia. Há claramente um conjunto, mais ou menos pardo, de vozes que anseiam por gritar, por falar alto. Haverá gente a reclamar vingança pelo que vem sucedendo e pelo que já sucedeu.
Olhando para o que se passa no PSD nestas eleições, não é difícil concluir acerca da matriz comportamental de alguns dos seus militantes mais ilustres: uma virtuosa decadência rumo à regeneração viciada. Aguardam a queda de Santana Lopes, num misto de ansiedade e de ambição.
Desde o processo de indigitação de Santana Lopes até ao actual momento, começou uma espécie de culto contracorrente à liderança. Independentemente dos claros e manifestos contributos que o próprio Santana Lopes deu a favor de quem o criticava, o certo é que o mesmo foi levado a ombros pelo aparelho partidário social-democrata. E aqui começou a consolidar-se grande parte da fraqueza deste PSD.
A fraqueza do PSD é a mesma que atravessa grande parte dos partidos políticos, mas que se denuncia mais pelo actual momento: a falta de personalidades com garra de liderança. A fraqueza do PSD enquanto partido de governação manifestou-se claramente com Durão Barroso que preferiu coligar o seu partido ao PP a ter de enfrentar a oposição parlamentar. Em nome da clássica estabilidade que todos reclamam e garantem. Dois anos volvidos de discurso da tanga e de compromissos de austeridade, Durão Barroso foge. Começa o “Pobre país” no Abrupto e a subida em flecha do respectivo “sitemeter”. Só depois veio Santana Lopes, e já o aparelho do PSD estava órfão de liderança e assustado com a perda do poder. Dividido, como o deixara Durão Barroso com a sua fuga, ainda que conseguindo pagar muito do silêncio com a permanência do PSD no poder.
Mas alguém terá de ser sacrificado e Santana Lopes cumpre os requisitos: pelo tempo que vivemos e pela pessoa que é. A razão do seu sacrifício resultará das razões que o levaram à governação, a par do seu desconcerto de ideias e de convicções.
Um dia Durão Barroso irá voltar, quem sabe até como aquele que poderá dar um rumo ao país. E isso é que é preocupante: a virtuosa decadência rumo à regeneração viciada. Uma regeneração ainda mais preocupante porquanto o PSD tem especiais responsabilidades de governação porque é essa a sua marca, a sua predisposição e a sua matriz. E terá sinais exteriores bem claros, como o regresso de Cardoso e Cunha a uma qualquer presidência de uma empresa pública, numa clara vitória do aparelho partidário sobre qualquer lógica de interesse nacional. Sendo fraco, o PSD enfraquece, ainda mais, o país. É algo que, por isso mesmo, importa cuidar, mesmo para mim que não me identifico nem com o PSD nem com o seu espaço eleitoral.
Este é o terceiro lado da moeda, a face do rebordo, comprimida entre o anverso dos resultados eleitorais e o reverso dos destinos do país. O que torna tudo um pouco mais sórdido e decadente. E pior: tendencialmente irreversível.
j.marioteixeira@sapo.pt
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