sexta-feira, 15 de abril de 2005

"AINDA WOJTYLA..."

O post de Guilherme D`Oliveira Martins, na sua Casa dos Comuns, conclui assim:
"10. O essencial e o acessório. Personalidade marcante, vontade determinada, figura com forte carisma, João Paulo II protagonizou um activismo internacional que marca a história do final do século XX. Se os seus críticos se sentem incomodados com a sua posição conservadora no tocante a aspectos de organização da Igreja (ministérios ordenados) ou de moral social (meios de prevenção contra a SIDA), a verdade é que a solução para essas questões será encontrada pela Igreja Católica, mais tarde ou mais cedo. No entanto, quanto à democratização da Europa e ao fim da guerra fria, à defesa de uma nova Ordem internacional e da reforma das Nações Unidas, à abertura ao diálogo entre confissões religiosas, à defesa da Paz e do desenvolvimento sustentável, à defesa de um projecto social avançado quanto à dignidade do trabalho, do emprego e à função social da propriedade e do mercado, o Papa foi pioneiro, esteve à frente do seu tempo. Soube, assim, distinguir o essencial e o acessório. Por isso, como disse Timothy Garton Ash, foi um dos grandes líderes internacionais do seu tempo".
Não creio que seja a sua intenção, mas o que transparece é que isso da condenação do uso do preservativo [uso esse que ainda é o meio mais eficaz de travar a epidemia da SIDA] é acessório. Trata-se de algo a que a Igreja, num ritmo que lhe é muito próprio muito instituição verdadeiramente secular que é, irá dar solução.
Ora, o problema é o tempo que passa e se multiplica por milhares de vidas humanas [adultos e crianças] que se perdem entretanto. As vidas humanas que a Igreja Católica, e bem, tanto preza.
A verdade é que se tratou de uma postura irresponsável e alienada da realidade dos dias de hoje, cuja gravidade levou a que destacados membros da igreja Católica se afastassem de tal postura, falando no uso do preservativo como mal menor para evitar um mal bem maior.
Não se trata de uma mera crítica ao falecido João Paulo II, trata-se de algo real: o endurecimento da Igreja Católica e o afastamento da doutrina libertadora.
Repito: não creio que fosse intenção dar como acessória a consequência nefasta e desumana da morte de milhares de seres humanos pela obstinada condenação do uso do preservativo. Mas é um sério risco que corre quando põe sob o mesmo tecto matérias tão diferentes e complexas.