sexta-feira, 15 de abril de 2005

Caixa de correio: censura

No passado dia 03 de Abril, como aliás acontece todos os domingos, tinha a telefonia ligada na Antena 1 para ouvir o programa "O Amor é", de Júlio Machado Vaz. Mas para minha grande surpresa e espanto, o programa que fora gravado na quarta-feira anterior, não foi emitido, e sem que fosse dada nenhuma explicação aos ouvintes. Poder-se-ia pensar que não houve programa devido a alterações na programação para a cobertura dos acontecimentos relacionados com a morte do papa que ocorrera no dia anterior. Mas esta razão não pode ser invocada porque os programas que costumam ser transmitidos na manhã de domingo até ao meio-dia, não foram cancelados excepto "O Amor é" convenientemente substituído por um inócuo espaço musical. Por isso interroguei-me se nessa gravação haviam sido abordados alguns dos pontos em que Karol Wojtyla fora mais intransigente como a contracepção, a interrupção voluntária da gravidez, o divórcio, a homossexualidade, o celibato do clero e o magistério ordenado feminino”.
[…]
Alguém decidiu que, no dia seguinte ao da morte do papa, estava fora de questão dar tempo de antena a um tal Júlio Machado Vaz, um sujeito que se ocupa de um tema tão pecaminoso e diabólico como a sexualidade e, como se isso não bastasse, ainda tem o imperdoável defeito de ser um incorrigível livre pensador que não se coíbe de criticar publicamente a santa e madre Igreja.
O que se passou no dia 03 de Abril é de uma extrema gravidade, por configurar um acto censório de todo inadmissível e intolerável num Estado de Direito Democrático, ainda para mais num órgão de comunicação social pertencente ao Estado, Estado esse que tem a obrigação constitucionalmente consagrada de zelar pela garantia de isenção e de liberdade de expressão nos órgãos sob a sua tutela. Volvidos 31 anos sobre o 25 de Abril de 1974, que devolveu as liberdades essenciais aos portugueses, nunca imaginei que um distinto cidadão como o Dr. Machado Vaz viesse a ser vítima da mordaça da censura. Machado Vaz não pede licença a ninguém para exprimir as suas ideias, atitude que muito aprecio e admiro e, por isso, tem toda a minha solidariedade sempre que for atingido por qualquer medida censória sejam quais forem as circunstâncias e as razões invocadas.
Oliveira Salazar morreu há 35 anos, mas as suas ideias continuam bem vivas nas mentes de muitos supostos bem pensantes. A censura salazarenta não morreu, continua a reinar entre nós
”.
Isabel Silva, Lisboa

Esta justa indignação [recebida ontem por e-mail] também se pode ler no Causa Nossa. Mais se refira que no Murcon está o desabafo de Júlio Machado Vaz.
Decididamente há coisas que não mudam por decreto, exigem muito mais luta e atenção.
Obrigado a Isabel Silva, pelo seu contributo.