quinta-feira, 23 de junho de 2005

Fosse diferente

A manifestação da extrema-direita não deverá ser desprezada pela pouca movimentação que demonstrou. Muito mais gente teria participado se o estigma "extrema-direita" não pairasse sobre as palavras de ordem. E teriam participado porque há um largo número de portugueses que se sentem inseguros nos comboios e nas ruas, que não acreditam nas instituições como os tribunais e que começam a ter asco à classe política.
Fosse aquela uma manifestação sem o timbre "extrema-direita" e teríamos muito mais gente descontente com a falta de segurança pública, descontente com a morosidade e a inoperância da Justiça, descontente com os membros da classe política que mentem e delapidam o interesse público, descontente com os serviços sociais que o Estado presta de modo desigual e injusto.
O perigo não está na movimentação da "extrema-direita", mas antes na existência real dos argumentos que possibilitam a radicalização dos discursos e das palavras de ordem. Esses argumentos existem e só podem ser combatidos pela assunção por parte do Estado das suas obrigações e em igual medida pelo exercício descomplexado da sua autoridade.
O perigo não está no aproveitamento dos argumentos. O perigo existe porque existem argumentos.