sexta-feira, 17 de junho de 2005

"Francez Sem Mestre"

O livro é antigo, data de 1941, está embrulhado em papel vegetal grosso, acastanhado e ensebado pelo tempo. Nas suas primeiras páginas, o seu autor informa:
O Francez Sem Mestre, pronuncia, grammatica, conversação, correspondência, literatura, ao alcance de todas as inteligências e de todas as fortunas, adequado ao uso dos portuguezes e dos brasileiros, por Joaquim Gonçalves Pereira, premiado com medalha de ouro na exposição do Rio de Janeiro de 1908” [sic].
Sétima edição, consideravelmente melhorada” [sic].
É daqueles livros que valem quer pelo conteúdo quer pelo que significam.
O conteúdo reporta-se a lições de francês, em que o leitor é orientado na aprendizagem daquela língua, sem necessidade de acompanhamento por um mestre. O título diz tudo.
O que ele significa é muito mais do que isso. Significa que um homem em Janeiro de 1941, aos 41 anos, achou por bem adquiri-lo para apurar os seus conhecimentos de francês. Estivera a trabalhar em França nos anos vinte, em Pas de Callais, durante a reconstrução após a 1ª Guerra Mundial. Trabalhou, aprendeu, aforrou e regressou a Portugal para se lançar na construção civil por sua iniciativa. E assim fez. Quis ir mais longe do que o exame da quarta classe ou as origens proletárias, alguma vez lhe poderiam sugerir.
As anotações estão lá, em forma de breves glosas, datadas, lição após lição, exercício após exercício.
Hoje o livro, depois de passar pelas mãos daquele homem e pelas mãos do seu filho, repousa na estante do escritório do neto. É mais do que um livro, é um ponto de partida para memórias, recordações, que encerra mais de sessenta anos de histórias. Como tantos outros livros. Um livro que dá especial orgulho em cuidar.