segunda-feira, 27 de junho de 2005

A gaffe: os pesos e as medidas

"É um pronunciamento sobre um despacho do governo regional de um tribunal dos Açores, que não é de Lisboa nem respeita à República Portuguesa, portanto não respeita ao nosso sistema".
Errar qualquer um de nós erra. A diferença está, fundamentalmente, em duas coisas: o modo como o erro é asumido e o tratamento que alguns erros têm em relação a outros.
A Ministra da Educação deu a pior argumentação que poderia ter dado: não é jurista e estava sob pressão da comunicação social. Não sendo jurista, é para isso que serve o seu gabinete de apoio que conta com diversos técnicos entre os quais juristas. E quanto à pressão a mesma não colhe: a declaração foi feita num telejornal da Sic Notícias e não à saída do seu Ministério em qualquer turbilhão de jornalistas à sua espera munidos de câmaras e microfones.
Teria sido bem melhor que tivesse assumido a infelicidade das suas declarações. Pois pior do que cometer um erro é querer emendá-lo com outro. Foi isso que Nixon e o resultado é histórico.
Mas terá tal episódio tanta relevância?
Passando os olhos pela blogoesfera, ao fim destes dias, percebe-se que a importância é diminuta, que poucas foram as críticas e as reacções. Mesmo em determinados pontos da blogoesfera onde tal episódio se tivesse ocorrido durante o desastroso principado de Santana Lopes, seria dissecado de fio a pavio.
A relevância da gaffe da Ministra da Educação não passa tanto pela falta de destreza com que a mesma a provocou e a tentou corrigir, mas antes nos diferentes critérios de exigência com que as coisas são tratadas.
Não serve isto nem para branquear o principado de Santana Lopes, nem para dramatizar a gaffe da Ministra. Serve apenas para se constatar diferenças de tratamento, de exigência, de rigor e de tolerância em apenas seis meses.