terça-feira, 14 de junho de 2005

Iluminismo lusitano I

O cidadão “A”, necessita de uma declaração escrita de um entidade oficial acerca da finalidade de um certo sinal de trânsito colocado numa rua de uma certa cidade, a fim de instruir um processo de reclamação junto a uma companhia de seguros.
Dirige-se então à Câmara municipal dessa cidade, onde é informado pelos funcionários “B” e “C” de que tal assunto deverá ser tratado no Departamento de Obras Municipais, que dista daquela Câmara uns 1500 metros, indicando o nome do Sr. “D” como a pessoa indicada para a questão.
O cidadão “A” dirige-se então aquele departamento, onde é interceptado pelo porteiro, o Sr. “E”, que o interroga sobre os seus propósitos. O cidadão conta-lhe tudo o que se passou e o porteiro conclui que o melhor é ir a outro departamento que dista dali uns 3000 metros. Perante a surpresa do cidadão “A”, á mistura com alguma indignação, o Sr. “E” lá resolve então dizer ao cidadão para este ir então falar com o Sr. “D”.
O cidadão “A” tenta, então, falar com o Sr. “D” daquele departamento mas o mesmo não está, encontrando-se em serviço externo. É então informado por um outro funcionário, o Sr. “F”, que o melhor será dirigir-se à Junta de Freguesia onde se encontra o tal sinal de trânsito, que dista daquele local uns 1500 metros.
O cidadão “A” dirige-se então à Junta de Freguesia onde é atendido por um funcionário, o Sr. “G”, que lhe explica que a emissão da tal declaração se trata de uma competência própria da Câmara Municipal, pelo que terá de se dirigir a esta, mais concretamente ao Pelouro do Trânsito, que fica a uns 1000 metros daquela Junta de Freguesia.
O cidadão lá se desloca àquele Pelouro, onde é informado que tal assunto deveria ser tratado pelo Sr. “D” do Departamento de Obras Municipais, mas que também poderia pedir ali no Pelouro a emissão de uma certidão, se tal servisse os seus interesses.
Na próxima vez que o cidadão “A” ouvir falar em greves na função pública ou políticos a pedir sacrifícios para ultrapassar as constantes crises, é fácil adivinhar qual vai ser o seu pensamento: “Ide à merda!”

j.marioteixeira@sapo.pt