quarta-feira, 6 de julho de 2005

Virtude

Não sabia que o TGV era assim tão importante para Portugal. A ideia que sempre tive acerca do TGV e da pressão da Espanha é que era do interesse desta, para, finalmente, ganhar a costa ibérica que lhe falta. Mas fiquei a saber que é importante. Tão importante que irá ser um desígnio a cumprir durante os próximos 8 a 10 anos. Tão importante que irá condicionar grande parte do investimento estratégico durante esse lapso de tempo, não importa com que governos.
Também não sabia que era estratégico um novo aeroporto para Lisboa. Sabia que os investimentos financiados pela União Europeia deixaram de ter aquela região como área de intervenção prioritária. Mas pelos vistos é importante e prioritário.
Pensava que era prioritário resolver de uma vez por todas a política da água, dos transvazes, investir na elaboração e concretização de um plano hidrológico nacional. Defender e assegurar um bem essencial que é água. Mas não.
Pensava que era prioritário apostar em energias alternativas, apresentando desde já projectos concretos de investimento. Porque afinal de contas não somos produtores de petróleo e a compra deste importa a saída de divisas para o exterior. Mas não.
Pensava que seria prioritário pôr a Justiça a funcionar, pôr os tribunais a despachar os processos, garantir a cobrança das dívidas, prevenir e reprimir a prática criminosa, acabar com as listas de espera que são abismalmente maiores que as da saúde. Mas não é. O que é prioritário é descriminalizar parcialmente o cheque, de modo a libertar os juízos criminais. Claro que esses cheques irão atafulhar agora os juízos de execução, e a confiança no uso do cheque irá sofrer mais um rude golpe, mas isso é outra conversa. Ou talvez a conversa seja a mesma mas querem fazer-nos crer que não é. Seja como for, não é prioritário.
Este plano de investimentos apresentado pelo Governo teve desde já uma grande virtude: fiquei esclarecido do quanto estava enganado acerca das prioridades de Portugal.

j.marioteixeira@sapo.pt