terça-feira, 9 de agosto de 2005

Dar a cara

A questão dos incêndios não passa, apenas, por questões de prevenção e de combate aos fogos, mas também pela reorganização da nossa floresta. A matéria está por demais estudada e firmada. Há anos que estudiosos, como o Arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles, têm chamado à atenção para a necessidade do ordenamento do território nacional equacionar reservas florestais e ecológicas funcionais.
Acontece que a matéria do ordenamento do território é onde mais se faz sentir o peso dos interesses económicos e egoísticos em detrimento do interesse nacional. Mexer nesta matéria é mexer em interesses privados de capital relevo financeiro. É também mexer com a gestão e os compromissos autárquicos e nas classificações de solo previstas nos Planos Directores Municipais, mas constantemente alterados por Planos de Pormenor.
Importa, por isso, um Governo com peso parlamentar forte para iniciar a reforma necessária que irá, por consequência directa, colidir com tais interesses privados.
Ora, esse tipo de Governo existe, pelo menos do ponto de vista formal. Mas onde está ele a dar a cara e a apresentar um plano concreto e objectivo para a reorganização da floresta? Ao fim de tanto tempo com militantes em diversos postos de direcção, designadamente das Comissões de Coordenação, o PS não tem como apresentar um plano de reflorestação do país?
Aparecer o Ministro António Costa, com todo o seu voluntarismo institucional, é apenas a triste repetição do que temos vivido há anos. Não se trata de uma matéria que se circunscreva à administração interna, mas antes que se baseia no ordenamento do território e ambiente, e que importa disciplina férrea das gestões autárquicas.
Se, a breve trecho, a reforma racional da floresta não for feita e se não se assistir a iniciativas parlamentares sérias nesta matéria, teremos uma ideia muito clara de quem está afinal representado pelo Governo e pelo Parlamento.

j.marioteixeira@sapo.pt