quarta-feira, 28 de setembro de 2005

Promiscuidade

Chegados à época de campanha eleitoral autárquica, deparamo-nos com uma questão politicamente desconfortável: é próprio que membros do Governo, designadamente Ministros e até o próprio Primeiro-Ministro, gastem o seu tempo e as suas energias em campanhas eleitorais partidárias?
Outrora, durante a governação Cavaquista e Guterrista, esta questão foi aflorada, mas, curiosamente, nunca foi aprofundada. Criou-se uma espécie de pacto de silêncio, e o assunto foi sendo marginalizado.
Em tempos de aparente moralização da vida política portuguesa [sublinha-se “parente”], já seria altura dos membros do Governo suspenderem a condição de militante partidário. A função dos membros do Governo é governar, a tempo inteiro, entregando-se à causa pública. Os partidos políticos é que têm o ónus de assumir o combate eleitoral no terreno.
Ao suspenderem a militância partidária, não davam azo a promiscuidades eleitoralistas, nem se dispersariam por atenções estranhas à prossecução dos interesses da República.
Ver membros do Governo em almoços de campanha, a fazer discursos de apelo inflamado ao voto, qualquer cidadão tem o direito de se interrogar: esta gente não deveria estar a governar?

j.marioteixeira@sapo.pt