quarta-feira, 14 de setembro de 2005

Res publica / Res furtiva

A decisão ambígua e camuflada de Manuel Alegre em não se candidatar para não fracturar o PS e a Esquerda, representa um fracasso da doutrina republicana face à lógica jactante do partidarismo da “coisa pública”. Se dúvidas houvessem acerca do peso castrador da lógica partidária, do predomínio das influências dos aparelhos partidários, elas ficaram desfeitas com o recuo de Manuel Alegre.
Respeito a sua decisão, mas lamento-a. Lamento-a porque é uma renúncia clara e evidente a um exercício de cidadania face à lógica militante. Lamento-a porque aprofunda ainda mais a crise de iniciativa cívica de que sofre a República. Lamento-a porque, na prática, significa que, no fundo e em bom rigor, a militância prevalece sobre a cidadania.
Se pessoas como Manuel Alegre não ultrapassam as barreiras disciplinares e não avançam para o combate político por mero compromisso republicano, quem poderá então fazê-lo? Houve já quem o fizesse – Salgado Zenha – mas parece ter acabado a casta. O seu discurso de Viseu esvaziou a credibilidade com que poderia ter contado. Ironicamente [ou não] faltou-lhe firmeza e arrojo, que são características que diz possuir como político republicano que diz ser.
A realidade é facilmente perceptível: não há lugar na política fora da lógica partidária; não há possibilidade sem compromisso.

j.marioteixeira@sapo.pt