Coisas assim
As carteiras das mulheres são associadas ao saco do pai natal: desde o batom à caixa dos óculos escuros, passando pela escova em forma de cilindro e as chaves, tudo cabe. É normal ver uma mulher remexer a carteira à procura de um qualquer objecto, que quase sempre aparece só a seguir à segunda tentativa, movendo a mão dentro da carteira como se estivesse a manipular as esferas de um tômbola antes de retirar o número premiado.
Depois há aquelas carteiras muito pequeninas, de etiqueta, onde cabe o batom, o rímel, um lenço e uma pequena caixa de chiqueletes refrescantes sem açúcar. Com as quais as mulheres, imagine-se, conseguem sobreviver perfeitamente.
Mas pior, bem pior, somos nós, homens, que fazemos da carteira um mealheiro, um arquivo e uma gaveta.
Guardamos na carteira todos os talões de Multibanco que diariamente tiramos sempre que fazemos um levantamento, um pagamento, e extractos dos “últimos movimentos” porque somos incapazes de viver sem saber qual é o saldo actual da nossa conta, sem ter a certeza que o sacana do banco não nos leva algum. E a maior parte dos talões são em papel térmico, pelo que a muitos já não se consegue ler em condições.
Guardamos os cartões pessoais, bancários, do telemóvel, do seguro de saúde, de pontos de uma gasolineira, e os de visita. Acumulamos colecção de cartões de visita: o daquele restaurante onde uma vez se foi e se quer dar a conhecer a alguém que de certeza que vai apreciar aquele cabrito assado; o daquele tipo da empresa de Internet que nos garante um preço espectacular; o do nosso médico, porque nunca se sabe quando é preciso marcar uma consulta; o do homem das obras que faz orçamentos baratos e volta meia volta desenrasca-nos; o do casal algarvio que aluga quartos no verão a preços de amigo; etc.
Os documentos costumam estar por lá, incluindo o cartão de eleitor e até o de associado dos bombeiros da terra ou de leitor da biblioteca municipal, sem esquecer os do carro: livrete, registo, inspecção, carta verde, talão do selo, juntos à carta de condução para facilitar as coisas em qualquer “operação stop”.
Para além das notas ordenadas em ordem decrescente da parte externa para a parte interna da carteira, escaladas por tamanho, e das moedas naquela bolsa ridiculamente pequena com mola de fecho metálica, temos depois diversas preciosidades avulsas: aqueles pontos que nos dão sempre que abastecemos mais de 25 Euros de combustível, que depois colamos numa caderneta para trocar por brindes; duas ou três fotografias tipo passe de alguém; talões de gasolina que vamos guardando com as contas da média de consumo de litros por cada 100 quilómetros feita nas costas segunda a “regra de três simples”; a etiqueta antiga da mudança do óleo do carro; talões antigos do totoloto, que estão por conferir; um talão de um qualquer parque automóvel; etc.
Daí que os nossos casacos por vezes pareçam insuflados numa das bandas, ou que uma das nossas nádegas pareça inchada. E temos bolsos, vários bolsos para espalhar a tralha. De bolsos falaremos um dia, talvez para a semana.
j.marioteixeira@sapo.pt
Depois há aquelas carteiras muito pequeninas, de etiqueta, onde cabe o batom, o rímel, um lenço e uma pequena caixa de chiqueletes refrescantes sem açúcar. Com as quais as mulheres, imagine-se, conseguem sobreviver perfeitamente.
Mas pior, bem pior, somos nós, homens, que fazemos da carteira um mealheiro, um arquivo e uma gaveta.
Guardamos na carteira todos os talões de Multibanco que diariamente tiramos sempre que fazemos um levantamento, um pagamento, e extractos dos “últimos movimentos” porque somos incapazes de viver sem saber qual é o saldo actual da nossa conta, sem ter a certeza que o sacana do banco não nos leva algum. E a maior parte dos talões são em papel térmico, pelo que a muitos já não se consegue ler em condições.
Guardamos os cartões pessoais, bancários, do telemóvel, do seguro de saúde, de pontos de uma gasolineira, e os de visita. Acumulamos colecção de cartões de visita: o daquele restaurante onde uma vez se foi e se quer dar a conhecer a alguém que de certeza que vai apreciar aquele cabrito assado; o daquele tipo da empresa de Internet que nos garante um preço espectacular; o do nosso médico, porque nunca se sabe quando é preciso marcar uma consulta; o do homem das obras que faz orçamentos baratos e volta meia volta desenrasca-nos; o do casal algarvio que aluga quartos no verão a preços de amigo; etc.
Os documentos costumam estar por lá, incluindo o cartão de eleitor e até o de associado dos bombeiros da terra ou de leitor da biblioteca municipal, sem esquecer os do carro: livrete, registo, inspecção, carta verde, talão do selo, juntos à carta de condução para facilitar as coisas em qualquer “operação stop”.
Para além das notas ordenadas em ordem decrescente da parte externa para a parte interna da carteira, escaladas por tamanho, e das moedas naquela bolsa ridiculamente pequena com mola de fecho metálica, temos depois diversas preciosidades avulsas: aqueles pontos que nos dão sempre que abastecemos mais de 25 Euros de combustível, que depois colamos numa caderneta para trocar por brindes; duas ou três fotografias tipo passe de alguém; talões de gasolina que vamos guardando com as contas da média de consumo de litros por cada 100 quilómetros feita nas costas segunda a “regra de três simples”; a etiqueta antiga da mudança do óleo do carro; talões antigos do totoloto, que estão por conferir; um talão de um qualquer parque automóvel; etc.
Daí que os nossos casacos por vezes pareçam insuflados numa das bandas, ou que uma das nossas nádegas pareça inchada. E temos bolsos, vários bolsos para espalhar a tralha. De bolsos falaremos um dia, talvez para a semana.
j.marioteixeira@sapo.pt
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home