terça-feira, 22 de novembro de 2005

Demagogia 2

Durante alguns meses tivemos de aturar a verborreia das candidaturas presidências como iniciativas pessoais. O republicanismo de cartilha, umas vezes mais provinciano, outras menos, lá desfiou as virtudes das eleições presidenciais como espaço de afirmação individual, pessoal, desembaraçado de militâncias partidárias, numa lógica de liberdade e de proclamação da independência de pensamento.
Tudo muito bonito, tudo muito certo, mas… mas eis que ninguém quer saber se Garcia Pereira participa nos debates ou não. Nenhum candidato de Esquerda está sequer interessado que um candidato sem o apoio de um partido político com assento na Assembleia da República ou sem ser destacado militante de um deles venha agora interferir. É como no futebol: Os Belenenses ou a Académica são clubes simpáticos, mas a possibilidade de ganharem o campeonato nacional só será compreensível se os “três grandes” estiverem muito mal.
O providencial homem de Esquerda chamado Mário Soares, o grande republicano poeta chamado Manuel Alegre, o líder do operariado chamado Jerónimo de Sousa, ou o príncipe da moral iluminada chamado Francisco Louçã, todos eles estão-se a borrifar se Garcia Pereira ou outros candidatos participam nos debates, estão-se a borrifar para o ideal republicano de afirmação de cidadania e de exercício dos direitos políticos em igualdade com os demais. Eles são os donos do bolo, cada um com a sua fatia, apesar de pregarem, cada um a seu modo, a distribuição das migalhas.
Fica bem falar em liberdade, em pensamento, em ideal republicano e em conquistas de Abril, mas só até a um certo ponto: o da conveniência.

j.marioteixeira@sapo.pt