quarta-feira, 23 de novembro de 2005

Ota: depois da decisão, a fundamentação

Não bastasse a adulteração da lógica racional que deve sustentar uma decisão, e ainda temos uma irredutível e incontornável contradição: a construção de um novo aeroporto tem sido apresentada como uma necessidade premente pois na Portela não há como expandir as estruturas existentes, mas economistas, técnicos, empresários atentam para o facto de na Ota ser impossível haver expansão do futuro aeroporto. Ou seja: opta-se pela construção de um novo aeroporto porque o actual não se pode expandir e daqui a 15, 20 ou 25 anos estará obsoleto, mas escolhe-se uma localização para o novo aeroporto que já se sabe que mais tarde não se poderá expandir.
Curiosamente é este Governo que por estar tão preocupado com o fim dado ao investimento público, chegou ao limite de chamar a si a gestão das obras do Metro do Porto porque havia derrapagens orçamentais e chegou mesmo a pôr em causa a continuação da expansão da rede lançando alguma dúvidas para o futuro próximo que ainda não estão totalmente esclarecidas. Quando bem se sabe que todos os grandes investimentos públicos têm derrapagens: basta olhar a todas as grandes obras públicas feitas em Lisboa.
Um rigor com dois pesos e duas medidas, sempre com a mesma constante: a situação geográfica do assunto. Coincidência?
Não está em causa a necessidade de Lisboa ser dotada de um novo aeroporto. O que está em causa é o aventurarismo disfarçado de estratégia; a decisão tomada antes do estudo; e o aplauso à valiosa iniciativa daqueles que outrora teriam vociferado contra a trapalhada, se o Governo fosse outro.


j.marioteixeira@sapo.pt