quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Pequena história dispendiosamente rotineira

A notificação judicial mandava o casal estar presente no tribunal às 9 horas e 30 minutos. Testemunhas num processo-crime, estavam arroladas pela Defesa.
Chegam ao tribunal às 9 horas e 20 minutos e aguardam a chamada. Umas tantas dezenas de pessoas vão chegando e esperando. Pelas 9 horas e 40 minutos é feita a chamada de diversos juízos para diversos processos. O casal, responde presente por entre o mar de cabeças que se junta à volta do funcionário que faz a chamada em voz alta no átrio junto às escadas.
Passados 20 minutos, uma nova chama para os faltosos da primeira.
São 10 horas e não há novidades.
Os mais curiosos vão perguntando aos advogados ou aos funcionários se haverá julgamento, pois já são 10 horas e 20 minutos.
São 10 horas e 40 minutos e algumas pessoas avançam para outros passos, seguindo orientações de funcionários e advogados.
São 11 horas e o casal continua a não saber se vão depor ou não.
Passados 15 minutos são informados que se está a realizar um julgamento antes ao em que irão depor. Será coisa breve.
São 11 horas e 40 minutos e são conduzidos para uma sala de espera: vai começar o julgamento e, assim, ouvidas as testemunhas. Como é processo-crime, primeiro são as da Acusação [6 testemunhas].
Às 12 horas e 28 minutos ainda faltam ser ouvidas testemunhas da acusação, e já a sessão está adiada para daí a 15 dias.
O casal, cansado da espera inútil, sente que o seu tempo gasto naquele tribunal não serviu de nada. Não percebe como é que ninguém teve dois dedos, ou até mesmo um só dedo, de inteligência para ver que jamais haveria tempo para serem ouvidos naquele dia. E que ninguém quis saber, deitando-se fora uma manhã de trabalho, de vida, sem qualquer utilidade ou proveito.
Cá fora, a talhe de foice, vem a conversa que pelo país inteiro, todos os dias se repetem estas cenas a milhares de pessoas. No mesmo país em que políticos falam de produtividade. O casal encolhe os ombros e conclui sem margens para dúvidas: isto é mesmo uma grande treta!

j.marioteixeira@sapo.pt