quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Mitologia

O debate de ontem teve uma singela utilidade: a de abalar a imagem mítica de Mário Soares como grande democrata e pluralista. Revelou Mário Soares como é: arrogante, petulante e malcriado.
O risco que Mário Soares quis correr com a estratégia para o debate era demasiado alta, e ele deveria saber isso. Conseguiu vitimizar Cavaco Silva e em momento algum cuidou de ter pudor em transformar a questão política em pessoal.
Não acho que tenha ganho o debate, antes o perdeu porque não conseguiu provocar Cavaco Silva, nem arrastá-lo para uma luta que este sabia não levar a melhor. Falhou. E por isso almeja uma desforra a todo o custo, mentindo acerca dos pressupostos da necessidade de haver mais debates: as ideias estão esclarecidas. O objectivo é querer ganhar na segunda vez o que perdeu na primeira.
Faça-se um pouco de exercício de memória para romper a tendência hipócrita de mistificação de Mário Soares neste país, tantas vezes envergonhado de lembrar a verdade dos factos: Se tivesse sido Cavaco Silva a dizer em tempos “Oh Senhor guarda, desapareça!” seria autoritário, indecente, ditador. Mas como foi Mário Soares, foi pitoresco. Lembre-se que o grande democrata e pluralista de Esquerda quando perdeu a eleição para a presidência do Parlamento Europeu para uma mulher, não se coibiu de a rotular de doméstica.
Mário Soares contribuiu claramente para a credibilizar a candidatura de Cavaco Silva, e a Esquerda não lhe pode perdoar tal coisa, desde logo na primeira volta destas eleições, fazendo do voto o merecido castigo.

j.marioteixeira@sapo.pt