quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

O breve impulso da tragédia

Enquanto a tragédia não acontece, a vida vai correndo, o tempo passando, as palavras voando. As coisas falam-se, abordam-se, debatem-se, analisam-se.
Tudo vai até que alguém é baleado, ou cai, ou afoga-se, ou é agredido, ou assaltado, ou tem um acidente grave. Então aí as coisas mudam-se: passamos a ter notícia, denúncias, acusações, justificações e promessas. Então aí ainda mais se fala, mais se aborda, mais se debate e mais se analisa. Até cansar o assunto, até nos cansarmos do assunto.
Para trás fica o agente da PSP baleado, o motociclista com as pernas decepadas por uma guilhotina em forma de rail, o automobilista abalroado e assaltado na estrada, o transeunte aleijado pela queda na obra mal assinalada, etc.
Entre o breve impulso da tragédia e o esfumar do assunto, fica algures a responsabilidade e a confiança.

j.marioteixeira@sapo.pt