quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

A revanche

As eleições presidências tomaram o irreversível rumo de acerto de contas do eleitorado.
O primeiro sinal claro reporta-se às eleições autárquicas. E agora seguem-se as presidenciais.
O Governo vai ter, fatalmente, de prestar contas pela quebra de compromisso para com o eleitorado que lhe deu a maioria absoluta: se Cavaco Silva ganhar, e principalmente se ganhar com folgada vantagem, muitos dos seus votos foram antes de José Sócrates.
Ao contrário do que muitos querem fazer crer, um Governo não é julgado ao fim de 4 anos, mas antes vai sendo julgado pelos sucessivos actos eleitorais de permeio. Pena é que o preço que uma deslocação de votos ao Centro a favor de Cavaco Silva seja apenas de contabilidade política para o PS, pois para o país é sintomático de algo muito mais grave: o definitivo descrédito da população em relação ao Estado e a fragilização da Constituição da República.
Há uma clara insatisfação por parte do eleitorado em relação às políticas deste Governo que em muito pouco, quanto ao âmago das questões, pouco diferem das de Durão Barroso. A violação do pacto de confiança que se iniciou com a subida dos impostos foi apenas o começo, seguindo-se uma via de investimento público na Ota e no TGV que não convence e que faz crescer a desconfiança de conluios secretos com Espanha, agudizados pelas controvérsias da Iberdrola e afins.
As eleições presidenciais serão qualquer coisa menos a defesa da Constituição. É pena.

j.marioteixeira@sapo.pt