quarta-feira, 19 de abril de 2006

Fado

O episódio da ausência de deputados do Parlamento, se preciso fosse, dá toda a legitimidade para escarrar no argumento do aumento da produtividade com que sucessivos governos – que emanam do Parlamento – tentam escapar aos resultados da sua incompetência. E ainda aumenta a legitimidade com que se aprofunda o fosso entre cidadãos e parlamentares, principalmente com as desculpas que foram apresentadas em sede de discussão à volta da “ética” parlamentar.
Em claro processo de branqueamento, a falsificação de presenças – materializada em assinaturas no livro de deputados ausentes, feitas com indiscutível dolo – vai sendo arrumada para o fundo da gaveta.
Por outro lado, o Ministro Alberto Costa insiste numa guerra que outrora o levou a demitir-se como governante: as críticas à Polícia Judiciária, além de não terem fundamento, cheiram a baixeza política de retaliação face ao recente episódio de demissão de Santos Cabral.
O que é mais grave é que as infundadas críticas do Ministro da Justiça à PJ – que teve um notável aumento de eficácia no combate ao tráfico de droga e à contrafacção de moeda apesar da falta constante de meios financeiros que limitavam as operações - dá ideia é que andava a trabalhar demais, a incomodar alguém. E isto é de uma gravidade terrível, que só se explica ou pela inabilidade mais do que comprovada do Ministro da Justiça ou por motivações suas, estranhas ao regular funcionamento da Justiça.