quarta-feira, 10 de maio de 2006

Défice educacional [1]

Há uma crise educacional que se reflecte a vários níveis. Desde logo porque se tem vindo a confundir educação com instrução. A educação não se obtém na escola e muito menos por via do ensino superior. Ela começa em casa, no berço, e molda, em muito, a personalidade, o carácter e os hábitos do individuo. É pois necessário fazer a distinção entre educação e instrução: a primeira vem de casa, a segunda do banco da escola.
Esta perniciosa confusão de conceitos, leva a que muitos pais entendam que sobre a escola recai a obrigação de educar os alunos, de lhes dar aquilo que, em casa, os pais não têm tempo para dar. E como educar também passa por disciplinar, o exercício da disciplina é muitas vezes descartado pelos pais que passam pouco tempo com os filhos – porque a vida de hoje é apelativamente absorvente e desgastante, e os custos dos luxos ainda que pagos a prestações exige diversidade de fontes de receita com consequente consumo de tempo, energias e nervos – e não querem marcar esses poucos momentos com negações, limites, barreiras ou contrariedades.
Acresce, para pior, que os professores vêm a sua acção disciplinar cada vez mais limitada e, também por via disso, cada vez menos respeitados até mesmo na própria sala de aula. A criancinha malcriada – tantas vezes comodamente rotulada de hiperactiva – apesar de ter forças e engenho para destabilizar toda uma turma, não tem estrutura mental para aguentar o açoite ou o tabefe do professor agastado e esgotado. E lá vêm os inquérito e as averiguações do conselho directivo, as idas do petiz traumatizado ao psicólogo, etc. Porque as crianças estão, aos poucos, a tornar reféns pais e professores, e, com isso, a dar corda à produção de futuros inadaptados do mundo selvagem que é, por exemplo, o mercado de trabalho.