sexta-feira, 25 de maio de 2007

Dá-lhe Zeca!

No meio do ruído, quem ladeava o Zeca, não parava de opinar: “Dá-lhe Zeca! Não penses duas vezes! Dá-lhe!”
Mas o Zeca hesitava, contorcia o rosto em apreensão.
A populaça não parava: “Oh Zeca, dá-lhe! Não hesites! Mais tarde arrependes-te!”
Ao Zeca não faltava vontade. Até que era merecido, mais do que merecido, mas tentava ser racional.
"Ai Zeca, Zeca. Pai é pai. Dá-lhe!"
Zeca olhava para aquela figura franzina e com mais apreensão ficava.
“Oh Zeca!” insistia o ajuntamento, “Dá-lhe!”
As vozes iam-se somando, tal a pressão sobre Zeca que sentia em si um crescendo nervoso.
“Havia de ser comigo!” bradava-se “Havia de ser comigo e tu ias ver como era!”
Zeca olhou pela última vez os olhitos do petiz e teve de tomar uma das decisões que mais lhe custou em toda a sua vida: agarrando-o pelo braço afastou-se da multidão e da barraca da feira, enquanto lhe dizia “Para a semana, se puder, eu compro-te a flauta”.