quarta-feira, 30 de maio de 2007

Sinais

Hoje quero falar de um assunto politicamente incorrecto enquanto homem: as telenovelas.
Isto a propósito de ter visto uns episódios de uma novela da TVI por ter belas imagens dos Açores. Foram poucos porque apercebi-me que começavam a ser repetidas e perdi o interesse. Mas fez-me reflectir sobre o que vi.
Há cerca de 15, 20 anos atrás, nós, os portugas, riamos e gozavamos com o Brasil: o país das novelas das 6, das 7, das 8. O país das novelas.
Faziam-se considerações político-filosóficas acerca da alienação do povo pelas novelas: entrete-lo com a vida fictícia dos outros para esquecerem a sua.
Hoje, ao olhar diariamente para a programação dos canais televisvos lusitanos, com especial referência à SIC e à TVI, o peso das telenovelas é impressionante.
O pior de tudo é que a qualidade é péssima. Compare-se o enredo, o elenco e seu desempenho de "Vila Faia" com qualquer novela do momento, e a diferença é abismal.
Parece-me que tal acontece porque os graus de exigência do país são cada vez mais baixos. Não se exige qualidade. Aliás não se exige, propriamente dito: critica-se, brada-se, insulta-se, mas não se dá um passo para exigir concretamente.
Hoje as novelas fazem crer que é possível, da manhã para a tarde (literalmente), comprar um banco ou pedir um empréstimo e dar de garantia uma galeria de arte em Nova Iorque. Fazem crer que num julgamento acusação e defesa se sentam ao mesmo nível e que o arguido se senta ao lado do seu advogado (à americana, tipo Perry Mason).
E o povo acredita nisto, acredita que é possível. Pois se até se pede dinheiro pelo telefone com a maior das facilidades. Pois se o casal ganha pouco mais do que o salário mínimo e até tem um plasma igual ao do patrão...
Talvez assim se explique que eu tenha deixado de fazer o comentário que tantas vezes fiz a ouvir governantes ou oposicionistas: "mas estes tipos julgam que estão a falar para burros?"