sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Basta juntar água

Enquanto os olhos estão postos na luta sindical dos professores, nos percursos de Dias Loureiro, nas indulgências ao BPP, no clássico Casa Pia, e na recessão que não vinha mas agora já vem, o país continua a abrir mão de uma das mais importantes ferramentas que asseguram uma soberania: o conhecimento.
Vivemos uma espécie de sublimação da criança, que se firmou num propósito de securitismo absurdo e perigoso: a criança tem direitos mas deixou de ter obrigações. A criança tem o direito de aprender mas não tem o dever de estudar.
Hoje, por força de uma irónica lógica de "novas oportunidades" faz-se os estudos de liceu com base na escola da vida, porque, afinal, português, matemática e filosofia não serão tão importantes quanto isso. E vai-se para a faculdade sem se ler Eça ou Kant.
Dá-se computadores às criancinhas, que um dia serão mestres em teclas e inábeis com uma esferográfica. E enquanto isso, há alunos no superior que esperam vez para poderem usar o computador da faculdade para os seus trabalhos e investigações.
O esforço, a dedicação e o brio perderam os seus lugares na lista de valores da sociedade. O sucesso e os resultados saltaram para o topo. Não importa já tanto como se chega e em que condições se chega, o importante mesmo é chegar.
Hoje, ter estudos e ter conhecimentos começam a ser coisas distintas.
Eu sou contra a política educacional vigente. Sou contra o estilo e rumo da Ministra. Mas não pelas propaladas razões que fundamentam marchas de protesto e vigílias. Estas apenas são manifestações socio-profissionais. Como, olhando para trás, cada vez mais vejo o 25 de Abril de 1974 não como uma verdadeira revolução política e social, mas antes como uma revolução sindical de militares descontentes com o rumo das comissões no ultramar, que deu jeito para mudar algumas das muitas coisas que estavam realmente mal.