segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A “Teoria do Bom Aluno” e a “Lei de Gresham”

Não é preciso fazer um grande esforço de memória para recordar a teoria defendida por Cavaco Silva, então Primeiro-ministro, de que Portugal deveria ser um bom aluno na Europa, aprendendo com quem sabe e seguir os ensinamentos que ela, civilizada, organizada, superior, tinha para nos dar. E deu-nos: milhões a rodos, com muitos a irem parar às contas da Ferrari.
Bem mais tarde, o seu artigo publicado no Expresso acerca da “Lei de Gresham” -”A má moeda expulsa a boa moeda de circulação” -, serviu de mote à metáfora política, para no fim concluir que é tempo dos bons políticos expulsarem os maus.
Num artigo em que Cavaco Silva fez aquilo que é tão só normal e corriqueiro no nosso país: pôr em cheque a honestidade ou a competência de todo um conjunto de pessoas, sem qualquer determinação de responsabilidade, mas sem deixar de criar suspeitos, à boa moda lusitana.
Ora, vale a pena lembrar os políticos que com Cavaco Silva ascenderam ao estrelato e que deram provas do tipo de moeda que são. Dois casos inequívocos são Durão Barroso e Santana Lopes, políticos de inegável ascensão na era cavaquista, sendo que um fugiu a um compromisso para com o povo português rumou a melhor pouso, e o outro limitou-se a ser aquilo que sempre foi e, provavelmente, será.
Isto para não falar em Dias Loureiro, José Oliveira e Costa ou Arlindo Cunha, que o caso BPN veio trazer à liça do apuramento do que é boa ou má moeda.
Hoje, com o país mergulhado numa séria crise económica, financeira e social, devendo cada vez mais dinheiro ao exterior, o Governo preocupa-se com o casamento gay e o Presidente da República com os mais de 500 mil desempregados que já temos.
Somos um país com valores humanos de referência no âmbito da engenharia, da arquitectura, da pintura, da literatura, da ciência, do atletismo, da medicina, das artes plásticas, etc.Só mesmo na política, e no que esta se infiltra, é que temos maus alunos e má moeda. E não há nada melhor do que serem os próprios políticos a lembrarem-nos disso.
(In Aventar)