"Downsizing", dizem eles
É uma triste realidade aquela em que pequenos e médios empresários tentam obter, junto da banca, liquidez para salvarem as suas empresas, depois de já lhes ter sido sugado todo o património e mais algum para garantia dos financiamentos.
Mendigam apoios àqueles a quem eu, eles, e todo o povo português, avalizou os seus financiamentos externos. Pois convém lembrar que a banca portuguesa foi pedir dinheiro lá fora com o aval do Estado português, ou seja com o nosso aval. E a nenhum de nós algum banco deu de garantia o que quer que fosse pelo aval que o povo lhes deu.
Esse dinheiro que veio de fora á custa do nosso aval está a chegar a conta-gotas às empresas, atrofiando-as em termos de liquidez. E quando o empresário chega à banca, como eu já assisti, para pedir ajuda, volta-meia-volta lá vem a lógica do “downsizing”, ou seja, a diminuição da estrutura da empresa para melhorar a sua viabilidade. Que é o mesmo que dizer mandar trabalhadores para a rua para se gastar menos em salários.
Antigamente chamava-se reestruturação orgânica ou funcional. Mas como em sede de pensamento económico as escolas norte-americanas é que estão a dar, agora chama-se “downsizing”. É estrangeiro, elegante, e torna aparentemente menos desumano o instrumento do despedimento para “viabilizar” uma empresa.
Então lá começam com o discurso do “downsizing”, pois que a receita genérica é que o mal está no peso da mão-de-obra, logo há que despedir. Um conceito que atravessa toda a banca, inclusiva a detida pelo Estado – sim, a Caixa Geral de Depósitos -, que deveria promover o emprego e não o inverso.
Esquecem os bancos, que no meio dos despedimentos irá também gente que lhes deve dinheiro, por exemplo, pelo empréstimo para aquisição de casa, e que, possivelmente, dado o emagrecimento de rendimentos causado pelo despedimento, irá de deixar de pagar a prestação. Além de que é preciso dinheiro, liquidez, para despedir.
A banca parece estar vocacionada para dar liquidez em troco de despedimentos, sendo que estes consumirão, se não toda, uma boa parte da própria liquidez.
Lembro a história, não sei se verídica, que se contava que um aluno universitário norte-americano, num exame oral final, perante uma vasta audiência, defendia como solução de um caso prático, que se reportava a uma empresa em dificuldades financeiras, reduzir drasticamente ao pessoal. No fim da sua exposição de argumentos o mestre, secamente, disse-lhe “Está reprovado, ponha-se na rua!”. O aluno, envergonhado, dirigiu-se à porta até que foi interpelado pelo mestre para voltar para o seu lugar, dizendo-lhe no fim: “Isso é o que sente alguém que é despedido e que tem de voltar para casa e encarar a família”.
“Downsizing”, dizem eles.
(In Aventar, a 08/01/2010)
Mendigam apoios àqueles a quem eu, eles, e todo o povo português, avalizou os seus financiamentos externos. Pois convém lembrar que a banca portuguesa foi pedir dinheiro lá fora com o aval do Estado português, ou seja com o nosso aval. E a nenhum de nós algum banco deu de garantia o que quer que fosse pelo aval que o povo lhes deu.
Esse dinheiro que veio de fora á custa do nosso aval está a chegar a conta-gotas às empresas, atrofiando-as em termos de liquidez. E quando o empresário chega à banca, como eu já assisti, para pedir ajuda, volta-meia-volta lá vem a lógica do “downsizing”, ou seja, a diminuição da estrutura da empresa para melhorar a sua viabilidade. Que é o mesmo que dizer mandar trabalhadores para a rua para se gastar menos em salários.
Antigamente chamava-se reestruturação orgânica ou funcional. Mas como em sede de pensamento económico as escolas norte-americanas é que estão a dar, agora chama-se “downsizing”. É estrangeiro, elegante, e torna aparentemente menos desumano o instrumento do despedimento para “viabilizar” uma empresa.
Então lá começam com o discurso do “downsizing”, pois que a receita genérica é que o mal está no peso da mão-de-obra, logo há que despedir. Um conceito que atravessa toda a banca, inclusiva a detida pelo Estado – sim, a Caixa Geral de Depósitos -, que deveria promover o emprego e não o inverso.
Esquecem os bancos, que no meio dos despedimentos irá também gente que lhes deve dinheiro, por exemplo, pelo empréstimo para aquisição de casa, e que, possivelmente, dado o emagrecimento de rendimentos causado pelo despedimento, irá de deixar de pagar a prestação. Além de que é preciso dinheiro, liquidez, para despedir.
A banca parece estar vocacionada para dar liquidez em troco de despedimentos, sendo que estes consumirão, se não toda, uma boa parte da própria liquidez.
Lembro a história, não sei se verídica, que se contava que um aluno universitário norte-americano, num exame oral final, perante uma vasta audiência, defendia como solução de um caso prático, que se reportava a uma empresa em dificuldades financeiras, reduzir drasticamente ao pessoal. No fim da sua exposição de argumentos o mestre, secamente, disse-lhe “Está reprovado, ponha-se na rua!”. O aluno, envergonhado, dirigiu-se à porta até que foi interpelado pelo mestre para voltar para o seu lugar, dizendo-lhe no fim: “Isso é o que sente alguém que é despedido e que tem de voltar para casa e encarar a família”.
“Downsizing”, dizem eles.
(In Aventar, a 08/01/2010)
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