segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

A descentralização da Ordem [II]

Tal como dei conta aqui, a Ordem dos Advogados [OA] levou a cabo um Conselho Geral Descentralizado, na Comarca de V.N. de Famalicão. Desse modo, os Advogados daquela Comarca, ou de qualquer outra, puderam assistir aos trabalhos daquele órgão da OA. Onde assuntos de relevo foram tratados, tal como a criação de um Observatório que centralize e trate de toda a matéria relevante no âmbito da Justiça, para posterior concretização de medidas ou propostas.
Serviu a iniciativa, acima de tudo, para promover a aproximação da OA aos Advogados. Ganhando particular relevo a discussão pública entre a assistência e os membros daquele Conselho acerca de questões importantes: apoio judiciário, custas judiciais, estágio, estatuto de advogado especialista, etc.
Apoiei publicamente a candidatura de Marinho e Pinto a Bastonário, mas não deixo de valorizar esta iniciativa e de reconhecer, atento o actual momento político, a necessidade de dar espaço de manobra ao actual Bastonário Rogério Alves de modo a que o seu mandato opere uma real mudança em tudo aquilo que depende o seu exercício.

j.marioteixeira@sapo.pt

Notas avulsas

1 – A participação eleitoral no Iraque justificará, no mínimo, muito empenho por parte da Comunidade Internacional, mas não deverá servir nem para legitimar uma guerra ilegítima nem para tornar certa a actual política externa norte-americana, sob pena de subverter os valores basilares da liberdade e da democracia. Pelo meio, seria bom reflectir-se sobre o verdadeiro papel da ONU na actual Ordem Política e Económica Internacional.
2 – A série televisiva “Até amanhã, camaradas” produzida pela SIC de Pinto Balsemão revela as hipocrisias “culturais” dominantes na nossa sociedade, bem como o ostracismo a que é devotado um grande número de valores culturais e artísticos do nosso país, por parte da RTP.
3 – Ficamos a saber que o “casamento entre homossexuais” e a “adopção por homossexuais” não são, para o PS, matérias importantes para o debate político. Aguardemos pelas iniciativas políticas [parlamentares ou governativas] do PS, para se poder aferir bem a actual reacção às palavras de Santana Lopes.
4 - A máscara do "Independente" finalmente caiu com a sua última capa, e do modo mais porco para um jornal que se arroga como paladino da independência. É um bom exemplo de mau jornalismo, pelo menos vale por isso.
5 – Será que existe algum balanço sobre o número de mortos que a terrível “frente polar” provocou no nosso país?...

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Inverno]

A secura deste Inverno, revela-nos, aqui e além, o chão dos rios, como é o caso do Rio Lima.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

A descentralização da Ordem

Refiro-me à Ordem dos Advogados. Hoje teve lugar em Vila Nova de Famalicão o Conselho Geral Descentralizado da Ordem dos Advogados. Uma iniciativa digna de registo e, talvez, a ser seguida por outras Ordens.
Segunda-feira falarei sobre isso.

O debate da Justiça

Quem conseguiu ver ontem o debate sobre o estado da Justiça levado a cabo na RTP, teve a possibilidade de, uma vez mais, perceber que a Justiça está mal.
Para aqueles mais ambiciosos que esperavam por ouvir soluções concretas, perderam uma rica oportunidade para jogar a sueca com os amigos.

Perspectivas [Outono XVI]

A lua de fim de tarde, mirando lá do alto a nudez redentora dos ramos.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

Pobre debate

O debate de ontem à noite na RTP1, à volta do nosso sistema político e eleitoral foi esclarecedor por certos pormenores. O que mais apreciei foi o seguinte: Decorrido que ia o debate, onde se falara por diversas vezes de “círculos uninominais”, Manuel Meirinho [docente universitário] atentou para o facto de que, possivelmente, 90% dos eleitores não sabem o que são “círculos uninominais”. Todos os demais presentes concordaram de imediato e António Seguro aproveito logo para divagar sobre a democracia e a participação política. Todos falaram da necessidade de haver mais pedagogia. Todos falaram de muita coisa. Mas ninguém explicou o que são “círculos uninominais”.
Conclusão: os possíveis 90% de desconhecedores de tal matéria continuaram na mesma. E porquê? Porque ficou bem patente a lógica do debate político que se assiste em Portugal: exercícios de retórica e pouco mais. Falar bem sem preocupações de esclarecer o que quer que seja.
Ficou-me apenas uma dúvida: será que nenhum representante partidário esclareceu o que são “círculos uninominais” porque, em bom rigor, também não sabe explicar?

j.marioteixeira@sapo.pt

Endividamento privado e [ir]responsabilidade política

O endividamento privado é um problema privado. Os políticos não têm nada com isso. Preocupem-se com o endividamento público”.

[ in Blasfémias]

Ao contrário do que defende João Miranda, sou da opinião que o endividamento privado é também responsabilidade da classe política.
O endividamento privado não surgiu por gestação espontânea, tendo sim raízes em desastrosas políticas dos últimos 15 anos.
Com a entrada na CEE pensou-se que os problemas estavam resolvidos, viriam os fundos comunitários e tudo ficaria bem. Não foi assim. Aliás não foi nada assim. As debilidades da nossa economia espelham bem quanta responsabilidade política houve quer na atribuição dos fundos quer na falta de sanção a quem utilizou para fins indevidos os mesmos fundos. De uma ou outra forma, a economia portuguesa continuou carente da devida modernização para que pudesse responder ao embate da concorrência de mercado cada vez mais feroz.
Pior, nos últimos 15 anos, apesar de todos os discursos de aposta na formação e na investigação, a indústria portuguesa sustentou a sua capacidade concorrencial na contenção dos custos de mão-de-obra, ou seja na contenção salarial. Salários magros que perduram até hoje, e que se manifestam desde logo no salário mínimo.
Se juntarmos a isso um apelo especial ao consumo como modo de vitalizar a economia e autêntica passividade política face aos constantes apelos ao endividamento por parte da banca, desde as contas salários que adiantam o vencimento do mês seguinte até ao financiamento para fazer extensões no cabelo ou comprar colchões ortopédicos, poderemos nós continuar a afirmar que o endividamento privado não é da responsabilidade da classe política?
Se juntarmos o facto de ser o próprio Estado a dar claro exemplos de despesismos em obras faraónicas ou em jobs for the boys, poderemos afirmar que a classe política não tem nada a ver com o endividamento privado?
Houvesse maior rigor na aplicação dos fundos comunitários e a nossa economia estaria bem melhor do que está hoje, seríamos capazes de criar mais riqueza e, consequentemente, termos mais riqueza para distribuir. Agora, com uma economia débil, que não foi capaz de se revigorar devidamente e com salários baixos, estamos à espera que as pessoas não contraiam dívidas? Estamos à espera que sejam capazes de viver apenas com o seu salário e ter casa e carro como vêm as demais famílias europeias a ter? Estamos à espera que sejam imunes ao consumismo com que são bombardeados todos os dias?
Criticar a falta de cuidado e de responsabilidade por parte daqueles que pedem sem poder pagar é uma coisa, agora apagar a responsabilidade da classe política é outra completamente diferente.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Outono XV]

Contemplando-se o Rio Vez, mirando agora para montante, descobre-se mais um espelho de água.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2005

Santana Lopes está "num canho"

Cá no Norte diz-se que alguém está “num canho” quando está mal, doente, fraco. Ao que parece é que se passa com Santana Lopes, segundo as suas próprias palavras:
[...]

Num momento em que estava de alguma maneira fragilizado pelas gripes que andam por aí, e que a todos atingem, e pelo problema na hérnia que me incomoda há mais de um ano, foi retemperador o contacto com estas pessoas que ajudam todos os dias a que as Portuguesas e os Portugueses possam ter uma melhor qualidade de vida”.

[...]

[in Blog de Pedro Santana Lopes]

Ó desgraçado. Até dá vontade de chorar…

j.marioteixeira@sapo.pt

Saudades do liceu

"Confrontos entre meia centena de alunos na Escola Infante D. Henrique"

"Conselho executivo foi obrigado a chamar a Polícia. Cinco jovens identificados. Tudo por causa de um aluno que apalpou uma colega".

Paulo Portas & Jerónimo Sousa

Do debate levado a cabo ontem na SIC Notícias, entre Paulo Portas e Jerónimo de Sousa, apesar de morno e de pouco estimulante, pode-se tirar algumas ilações com interesse:
- Paulo Portas cuidou de mostrar obra feita, relacionando-a com os 8% que obteve nas últimas legislativas, apelando ao voto para que mais possa fazer no próximo círculo eleitoral;
- Conseguiu separar em benefício do eleitorado do CDS-PP, as políticas do Governo;
- Cuidou de passar a mensagem política de sedução quer da ala conservadora da Direita quer do eleitorado do Centro-Direita [com natural prejuízo para o PSD];
- Reforçou a ideia do CDS-PP como um partido de governação responsável e fiel aos compromissos assumidos quer ao nível parlamentar quer ao nível governativo, em claro recado ao PS caso este não ganhe as próximas eleições com maioria absoluta;
- Jerónimo de Sousa conseguiu mostrar a serenidade necessária para se afirmar como líder do seu partido no seu primeiro debate televisivo, frente a um especialista na matéria;
- Teve o cuidado de adaptar a sua linguagem, não usando por uma única vez a clássica expressão “grande capital”;
- Evitou críticas directas ao PS, tomando uma “atitude ética” de “não agressão” ao ausente José Sócrates, tentando demonstrar correcção e responsabilidade partidária à Esquerda. [
Se Paulo Portas não revelou nada de novo no seu discurso e na sua estratégia, já Jerónimo de Sousa apresentou-se de um modo algo surpreendente [se compararmos o que se falou desde que surgiu como potencial substituto de Carlos Carvalhas], conseguindo contrariar a ideia do fundamentalismo de linguagem, sem recorrer as chavões e poupando críticas a José Sócrates por este se furtar aos debates televisivos.
De resto, o debate valeu pouco mais do que isto.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Outono XIV]


Continuando junto do Rio Vez, num espelho de pedras e árvores.

j.marioteixeira@sapo.pt

terça-feira, 25 de janeiro de 2005

Sinais dos tempos de hoje [VIII]

Assiste-se ao esvaziamento da discussão da coisa pública. Está fácil de ver que em época eleitoral ganha mais relevo a picardia do que o debate, o mexerico do que a clarificação.
Nesta área o PS tem especial responsabilidade, uma vez que lhe cabe demonstrar que votar no PS é votar na mudança e não na redundância. Cabe ao PS apresentar soluções claras e precisas para o que urge ser resolvido e quais os rumos que visa marcar para o médio/longo prazo. No fim de contas, tem que se assumir como projecto de governação aos olhos dos eleitores, de modo a que possa dizer “merecemos a vossa confiança porque queremos fazer isto e aquilo, desta e daquela forma”.
Uma das melhores formas do PS se assumir como projecto de governação, seria debater com os demais partidos políticos com assento na Assembleia da República, de modo a que também os obrigasse a assumir compromissos.
Lamentavelmente o PS furta-se a esse confronto em sede de debates televisivos. Ao contrário, bipolariza o debate político com o PSD, talvez para mostrar que Sócrates fala melhor, é mais esperto, é mais responsável, é mais estudioso, do que Santana. O que é uma falácia: o que interessa não é que Sócrates seja melhor do que Santana, mas sim que as suas ideias e soluções sejam melhores para o país. Isto é, deveria ser isto o interessante. Mas está visto que não é.
Esta fuga a um debate mais amplo revela arrogância, valoriza o adversário e, pior, denuncia fragilidade. Além de que transforma o debate político numa luta de nomes e imagens.
Sempre seria interessante saber o seguinte: se fosse Santana Lopes a tomar essa atitude o que diriam os seus críticos? O que diria muita gente da Esquerda em intelectual defesa debate político amplo e plural?
Esta é uma clara vantagem com que parte Sócrates: ainda não têm críticos (e muito menos de estimação), o que lhe possibilita agir como age sem que seja apodado de irresponsável ou de imaturo.
Acontece que estas eleições representam aquilo em que se transformaram as eleições legislativas: um concurso em que o prémio é o destino do país por quatro anos.
A mim preocupa-me o sentido que as coisas estão a tomar. Há sinais claros e distintos deste novo modo de fazer política que atravessa toda a ementa partidária: o resumo aos nomes e respectivas imagens. O CDS-PP anunciou um "elenco governativo" antes de apresentar qualquer programa eleitoral. Até mesmo o PCP já usa a imagem de Jerónimo de Sousa nos cartazes da CDU. A resistência à tentação mostrou os seus limites.
Para além disto, temos uma outra moda: a moda os choques. Começou por ser a do "choque fiscal", agora é do "choque tecnológico" e do "choque de gestão". Resta esperar que a moda siga até um "choque eléctrico" que depure a nossa política.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Outono XIII]



Hoje é a vez do Rio Vez, e dos arcos da ponte de Arcos de Valdevez.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

Assimetrias

Indices de poder de compra concelhio revelam grandes disparidades em Portugal"
"Lisboa, 24 Jan (Lusa) - Lisboa, com um poder de compra quase 2,8 vezes acima da média, e Celorico de Basto (Braga), com pouco mais de dois quintos da média, revelam as disparidades de nível de vida em Portugal, indicou hoje o INE.
O estudo sobre o poder de compra concelhio por habitante, hoje divulgado pelo INE, mostra que 21 concelhos detêm metade do poder de compra nacional (Lisboa e Porto concentram quase um quinto), cabendo a outra metade aos restantes 291 municípios.
O INE revela que entre os 10 concelhos com menor poder de compra em Portugal metade são do distrito de Viseu, dois da região autónoma da Madeira, um do distrito de Braga, um do distrito de Vila Real e outro dos Açores.
Todos aqueles concelhos têm menos de metade do poder de compra médio nacional por habitante, tendo o mais desfavorecido um poder de compra por habitante 6,6 vezes abaixo do verificado na capital.
O concelho do Porto está próximo do dobro da média nacional de poder de compra por habitante (98,48 por cento acima).
Entre os 10 mais, seguem-se Oeiras (80,97 por cento acima da média), Cascais (62,29 por cento), Albufeira (41,17 por cento), Faro (40,15 por cento), Coimbra (32,47 por cento, Amadora (29,09 por cento), Matosinhos (25,86 por cento) e Aveiro (21,53 por cento).
Nos 10 menos, a seguir a Celorico de Basto (poder de compra por habitante 58,23 por cento abaixo da média nacional), surgem Sernancelhe (Viseu), 57,93 por cento abaixo, Cinfães (Viseu), 57,29 por cento abaixo, Ribeira de Pena (Vila Real), 56,22 por cento abaixo, Penalva do Castelo (Viseu), 55,98 abaixo.
Surgem, ainda, Câmara de Lobos (Madeira), 55,65 por cento abaixo do poder de compra médio por habitante em Portugal, Armamar (Viseu), 55,45 por cento abaixo, Resende (Viseu), 55,22 por cento abaixo, Vila Franca do Campo (Açores), 54,91 por cento abaixo e Santana (Madeira), 54,78 por cento abaixo
".
FVZ. Lusa/Fim

[in Lusa]

Os números denunciam o que se vai passando com o nosso sistema eleitoral, com a concentração do poder político, com o peso das influências e dos clientelismos em que se encontram reféns as nossas instituições ditas representativas.
A verdade nua e crua é que não há um só Portugal, mas muitos. Tudo depende onde nos encontramos. Digamos que se trata de uma questão meramente geográfica...

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Outono XII]


Recordando o Rio Minho em final de tarde outonal.

j.marioteixeira@sapo.pt

sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

Porto de mágoas

A Invicta tem um traço histórico e ancestral de sofrimento, dor e sacrifício. Faz parte da sua génese, do molde da sua temperança orgulhosa e altiva. É assim, e não há nada a fazer.
Talvez por isso aguente a dor infligida por quem a maltrata, por quem a desilude e a injurie.
Talvez por isso lhe chamem Invicta.
Talvez.
Nos últimos anos, a Invicta tem abrigado mágoas e desgostos, que ferem o seu orgulho a golpes de vergonha e vexame. Mas resiste. Resiste para além dos agressores, dos paladinos salteadores da sua fortuna histórica e tradicional. Resiste, esperando que surja quem a ame, porque aprendeu a esperar.
Desengane-se quem pensa que a Invicta não sabe escolher. Sabe. Mesmo que a sua escolha seja para castigo de alguém.
A história recente tem mostrado que a Invicta concilia a pena com o orgulho. Assim foi quando renegou Fernando Gomes, que a abandonara por um cargo ministerial. Depois de ser largado pela amante quis voltar para casa, mas as portas fecharam-se.
Num futuro próximo, receio do dilema que se poderá pôr à Invicta, se ficar confrontada perante a escolha do menos mau. Ou se tiver de castigar alguém pelo mal que outrora lhe fez. Se acontecer, é mais uma mágoa a deitar amarras ao Porto. Mais uma.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Outono XI]

A secura das vides, em contraste com o verde dominante e a água corredia. No Minho.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

"Os Senadores" por Pacheco Pereira

Num daqueles exercícios "repentinos" de enorme lucidez e precisão, a que já nos habituou por diversas vezes Pacheco Pereira, o seu artigo "Os Senadores" no Público denuncia a essência do que faz falta ser denunciado, aberta e publicamente. Tanto mais porque é ele próprio, Pacheco Pereira que o faz.
Particular relevo para este trecho:
"Existem nos sindicatos, nas fundações, nos partidos, na comunicação social, nas associações empresariais, nas fundações, nos grandes grupos económicos, nas ordens profissionais, nos grandes escritórios de advogados, nos clubes de futebol, nas autarquias, na "cultura" organizada. É normal que seja assim em democracia, o que não é normal é que seja tão difícil exercer a autoridade democrática contra eles, ou para além deles, quando é necessário pelo bem comum".
"É que isto não vai com pactos, porque se fosse já tinha ido. O sistema político é suficientemente racional para que se fosse possível, numa mesa de negociações, unir PS e PSD para diminuir as despesas de saúde, ou de segurança social, ou modernizar a administração pública - as diferenças ideológicas, que já são pequenas, não impediriam um acordo em cinco minutos. O problema é que por detrás de todos os "problemas" estão interesses de todo o tipo, a começar pelos interesses económicos poderosos e a acabar pelos "interesses" da pobreza, do remedeio, da baixa qualificação, do mundo protegido da competição, da preguiça, da apatia, típico das sociedades excessivamente dependentes do Estado e do subsídio - se sobrevivo assim, mais ou menos, porquê arriscar um mundo que me pode ser mais hostil? Os partidos políticos estão mergulhados nestes interesses, a montante e a jusante, e, frágeis como são, precisam de "comprar" eleitorado com a promessa de que nada muda na mediocridade".
Divergências de lado, assumo o meu profundo reconhecimento em tudo quanto Pacheco Pereira escreveu naquele artigo, apenas com uma ressalva: um poder político forte só será possível com políticos que não fujam nem choraminguem.

Audire [III]

Conversa escutada hoje de tarde, junto a um balcão de café:
- ... e andam agora a dar tachos aos amigos, antes que larguem a mama.
- A nós não dão eles tacho.
- Pois não...

Toda a razão: "Pois não..."

j.marioteixeira@sapo.pt

Será ali...


... dentro daquele círculo branco, que aterrou a Huygens?

j.marioteixeira@sapo.pt

A pivatização dos Cartórios Notariais [II]

Continuando o que escrevi aqui:
O processo está em curso, rumo à conclusão célere [ou melhor, acelerada].
As coisas começaram com a publicação da Lei nº 49/2003, de 22 de Agosto, autorizando o Governo a aprovar o novo regime jurídico do notariado e a criar a Ordem dos Notários.
Todavia, parece que se trata de algo a que não se anda a dar grande importância. De certa forma até se compreende, uma vez que há [infelizmente] tanta coisa a que se dar importância que esta é só mais uma.
Daqui a algum tempo, uns tantos anos, talvez, é possível que se comece a ter consciência do que se está a passar. Quando alguns Cartórios Notariais trabalharem em "comunhão de esforços" com certas sociedades de advogados. Talvez.
Então aí alguém poderá começar a perguntar que rumo é este que Justiça levou nos últimos três anos? Os mesmo três anos que coincidem com Celeste Cardona, José Miguel Júdice e Pedro Aguiar-Branco. Um triângulo bem interessante, bem patente pelo modo como ficou a Justiça depois da passagem de tão ilustres figuras.
Para já, três coisas são certas:
1 - O Estado deixa de estar presente nos Cartórios Notariais, passando tal “actividade" a exclusivo exercício privado;
2 - O Estado não só abdica de receita como ainda tem de manter a despesa do pessoal administrativo que trabalha para ele, reintegrando noutros serviços [no mesmo Ministério e no mesmo Concelho];
3 - A "Fé Pública" dos instrumentos e actos notariais passa a estar na mão de privados e subordinada a tal lógica.
É curioso, muito curioso mesmo, como nesta matéria se andou tão depressa, com tanta rapidez, ao passo que, por exemplo, para abrir uma farmácia continua a ser tudo tão complicado, ou para baixar significativamente a média de entrada nos cursos de medicina para depois se contratar médicos espanhóis. Porque será?

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Outono X]


Revisitando o Rio Minho, em final de tarde.

j.marioteixeira@sapo.pt

quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

A privatização dos Cartórios Notariais [I]

Está já publicada a lista de atribuição de licença de instalação de Cartório Notarial, no portal do Ministério da Justiça, mais precisamente aqui.
No meio judiciário corre a ideia que o Governo de gestão [?!] quer os cartórios notariais privados a funcionar antes das eleições.Porque será?...
Não vou, pelo menos para já, abordar a questão da “legitimidade” do actual Governo, uma vez que não me parece que se trate de um acto [ou melhor objectivo] de mera gestão. A questão, para já, é da oportunidade/necessidade, de se privatizar a 100% os Cartórios Notariais. O Estado, pura e simplesmente entrega tal “actividade” aos privados. Ainda para mais, uma “actividade” que fazia render uma excelente receita para os Cofres. O mesmo se diga das Conservatórias do Registo Predial e Comercial, que, segundo tem sido já falado em algumas acções de formação dos ainda actuais funcionários dos Cartórios do Estado, serão o próximo alvo de privatização.
Ora, não só o Estado privatiza aquilo que dá “lucro”, como agora vai ter de integrar todos os funcionários dos Cartórios do Estado, que se irão extinguir, em entidades do Ministério da Justiça e no mesmo Concelho em que prestam hoje serviço. Podem os funcionários passar a exercer as suas funções na privada, mas no presente momento, a maioria com que tenho conversado não deseja abandonar a carreira no sector público.
Privatizar o que dá dinheiro em época de racionalização dos gastos e de maximização de receitas, já por si só é um bom começo de reflexão...

j.marioteixeira@sapo.pt



Perspectivas [Outono IX]



Não, não é em África, é mesmo no Minho. Em Valença para ser mais preciso.

j.marioteixeira@sapo.pt

terça-feira, 18 de janeiro de 2005

Sinais dos tempos de hoje [VII]

Demorei a decidir-me se escreveria sobre isto ou não. O resultado está claramente à vista.
Passar por um grupo de estudantes do liceu à conversa e ouvir a seguinte frase de um deles: “O meu pai tá-se a cagar, agora a minha mãe… puta que a pariu…”.
Seria algo que deveria despertar, no mínimo estranheza. Mas não. Ninguém olhou, ninguém fez qualquer comentário. Ninguém manifestou qualquer reacção. Excepto eu que acabei por olhar para o autor de semelhante “pensamento”. Olhei, apenas, num misto de espanto e de descrença no que acabara de ouvir. Fui o único, todos os demais transeuntes continuaram mecanicamente a sua rotina.
Alguns minutos depois, já ao volante, fazia “escolta” a um ciclomotor onde ia um casal e, no meio, uma criança voltada para trás, sem capacete. O seu olhar vivo, alheio ao perigo evidente em que viajava, fixou-me e começou a dizer-me adeus com a sua mão pequenita. Não fui capaz de resistir a tamanha graça e correspondi, diversas vezes. Certamente numa figura de parvo para quem me estivesse a ver, mas enfim. Foi curto o caminho que nos levou à separação de rotas e não mais vi o puto.
Afinal de contas o que é que nos choca e o que nos seduz? Será ainda aquilo que vemos todos os dias, ou apenas o que nos mostram?
Porque nos tornamos mais activos e solidários com a miséria longínqua do que com aquela que coabita connosco nos cenários das nossas rotinas?
Que sociedade é esta que estamos a criar?
Percebem agora porque demorei tanto tempo a decidir se escreveria ou não sobre isto? Dois episódios sumários e seguidos foram o bastante para me rodear de dúvidas. Destas e de muitas mais. Tantas, que até quase esquecia como tudo começou: com uma frase e um aceno.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Outono VIII]



O Minho, no contraste outonal do que é vivo, do que é corrente, e do que é secura e aridez.

j.marioteixeira@sapo.pt

segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

Galheteiro: um acto de terrorismo de Bruxelas

Brussels intends to do away with the cruet - that set of salt and pepper and in southern Europe, olive oil and vinegar - on restaurant tables. This act of cultural and culinary terrorism shows the very worst side of Brussels' regulatory mania and is an insult to those devoted to Mediterranean cuisine”.
[…]
Regulate, regulate, regulate. The Eurocratic ideal runs something like this: the size of the Euro-apple must be five point three one centimeters around the girth. The delicious Portuguese bravo d'esmofe measures five point one three centimeters about the girth: destroy it! Burn it at the stake! Stamp it into the ground! Thus the Europeans will never know what it is like to eat the bravo d'esmofe, which is like standing enraptured in paradise while your taste-buds explode around you in ecstasy, a type of culinary orgasm but without the sex”.

A notícia é do Pravda e é, no mínimo, uma abordagem muito curiosa.

j.marioteixeira@sapo.pt

Sinais dos tempos de hoje [VI]

O PCP parece apostar num novo tipo de abordagem eleitoral em sede de "marketing" de campanha, dando relevo à imagem de Jerónimo de Sousa.
Aos poucos, a crítica oficial ao culto da imagem no combate político [com base no ideal do colectivo] parece ceder perante a moda outrora repudiada.

Dúvida avulsa [II]

Numas eleições onde a imagem vale quase tudo, irá Sócrates fazer alguma revelação de cariz mais pessoal antes das eleições, dando-se a conhecer melhor na intimidade?

Miguel Torga - 17 de Janeiro de 1995

Denúncia

Acuso-te, Destino!

A própria abelha às vezes se alimenta

Do mel que fabricou...

E eu leio o que escrevi

Como um notário um testamento alheio.

Esvazio o coração, cuido que me exprimi,

E vou a olhar o poço, e ele continua cheio!

Acuso-te e protesto.

É manifesto

Que existe malvadez ou má vontade!

Com a mais humilíssima humildade,

Requeiro, peço, imploro...

Mas trago às costas esta maldição

De sofrer com razão ou sem razão,

E de não ter alívio nas lágrimas que choro!

["Penas do Purgatório", 1954]

Miguel Torga [Adolfo Rocha] faleceu há 10 anos.

ADENDA: ler também em Briteiros.

j.marioteixeira@sapo.pt

Coisas dos sentidos [III]



Ver o filme “Shall we dance?”, e perceber por entre as piadas e os trocadilhos que fazem rir, o inconformismo, a renúncia à rotina e o direito à diferença.
Relevo para as interpretações de Stanley Tucci e Lisa Ann Walter.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Outono VII]



O Rio Minho, em fim de tarde.

j.marioteixeira@sapo.pt

sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

Coisas dos sentidos [II]


["Rare Orbison", de Maio de 1989, CBS AK 45115]

Ouvir Roy Orbison cantar “The Actress”:

Well you should be an actress
You play your part so well
Your act is so believable
That no one else can tell

You say the lines, but I see
That you don't really love me

You keep me around to be your faithful clown
Till someone you can love comes along
You'll keep on pretending
Because the show must go on

Yes, you should be an actress
As lovely as you are
The way you play on emotion
You'd shame the brightest star

You're acting all the time
No, you're not really mine

I'm just another scene in your play acting scheme
No, you dont love me at all
But when you walk away
That's when the curtain will fall

But I'll go all the way to the end of the play
I'll be a part of your masquerade
Although I know it may be the saddest show
In the life of a fool on parade

Ainda que sem querer, tão próprio em época eleitoral, nesta época eleitoral. Principalmente se nos lembrarmos de Durão Barroso [e não só!].

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Outono VI]


Numa manhã minhota, verde, fresca e rude.

j.marioteixeira@sapo.pt

quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

Dúvida avulsa

No actual estado político em que nos encontramos, parecem existir todas as perigosas condições para o surgimento de um partido extremista, que saiba, por exemplo, explorar ataques e acusações aos políticos [todos, sem excepção] e a semear xenofobias e racismos no universo dos desempregados.
Será?

Perspectivas [Outono e as margens do Douro XX]


De volta ao Douro, desta vez pelo rendilhado da Maria Pia à contraluz.

j.marioteixeira@sapo.pt

Vale a pena [XX]

Estar atento ao que se escreve no MARGENS DE ERRO. Ainda que atrasado, um sincero "benvindo".

"O ALVO"

"O PSD vai propor a limitação dos poderes presidenciais para que não seja possível um Presidente da República dissolver o Parlamento de forma "discricionária", diz o Público de hoje.
O alvo não é Jorge Sampaio, mas sim Cavaco Silva. As propostas de Santana Lopes para limitar os poderes presidenciais destinam-se a garantir que Cavaco Silva, caso seja Presidente, fique uma figura puramente decorativa".

O post é de Pacheco Pereira, no seu Abrupto de hoje.
Discordo de Pacheco Pereira nesta sua visão redutora. A delimitação dos poderes do Presidente da República [PR] visa o PR, qualquer que ele seja, e não o seu [de Pacheco Pereira] herói salvador da pátria. A tese da limitação dos poderes do PR seguiu-se à decisão de Jorge Sampaio em dissolver a Assembleia da República [AR], foi uma decisão reactiva [para não dizer reaccionária porque o uso de tal termo levaria a uma longa reflexão sobre a actualidade do termo anos volvidos após o PREC].
A governação de Santana Lopes é de si tão má quanto já foi escalpelizada por todo lado, com maior incidência na blogoesfera e, aqui, com maior relevo ainda para o Abrupto. Há, por isso, matéria mais do que suficiente para “atacar” Santana Lopes, sem que seja necessário salvar qualquer honra heróica.
Pacheco Pereira criticou e critica [muito bem] as “vitimizações”, e no entanto agora quer fazer emergir uma nova vítima, absolutamente virtual porque nem Cavaco Silva se afirma re-candidato às eleições presidenciais [repetindo o já enjoativo “tabu”] nem tal limitação vigoraria para um eventual mandato de cavaco Silva.
Compreendo o apelo insistente de Pacheco Pereira a Cavaco Silva, num ideal providencial, atento o deserto de referências que o PSD se tornou para si nos últimos 8 meses.
A ideia preconizada pelo PSD é, tão só, espelho da nossa organização política e social: não se age mas sim reage. Tal como não se defendeu a revisão da prisão preventiva até que figuras públicas/políticas foram apanhadas na sua teia.

j.marioteixeira@sapo.pt

quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

Novas Fronteiras e velhos horizontes

Aguardei que passassem alguns dias para poder escrever com um pouco mais de certeza.
Aquilo que deveria ser um elemento catalisador de ideias e vontades, começa a esboçar-se como um redundante fracasso. As “Novas Fronteiras” estão muito longe da dinamização com que surgiram os “Estados Gerais”. Quem esteve presente no arranque do fórum na Alfândega do Porto, constatou isso mesmo.
Parece-me que o mote lançado para a abertura foi mal escolhido: “Portugal na Europa e no Mundo”. Não que a matéria seja irrelevante, mas porque as pessoas anseiam por saber de soluções para os seus problemas do dia-a-dia e não de questões transfronteiriças.
Este projecto arrisca-se a tornar-se um espaço de discussão intelectual e de dialéctica política, a que a população não se sentirá minimamente atraída. De fronteiras passaremos aos horizontes, aquelas linhas imaginárias que estão ao alcance da vista, mas não das mãos.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Outono V]


Terra minhota, em manhã de neblina.

j.marioteixeira@sapo.pt

terça-feira, 11 de janeiro de 2005

"QUESTÃO CRUCIAL: A EDUCAÇÃO!"

Artigo da autoria de Guilherme D`Oliveira Martins na Casa dos Comuns, onde procede ao elenco das prioridades da Educação. As preocupações estão todas lá, a actualidade, também. Apenas faltam propostas concretas de articulação da Educação com as exigências dos tempos de hoje: mercado de trabalho, investigação, etc.

Facilidades

Por parte de quem se enquadra no pensamento político de Esquerda mas que tem presente o que já é passado, tem consciência das sérias dúvidas sobre a capacidade de um PS que seja a solução, quando na sua liderança surgem sinais sucedâneos da liderança laranja. Já quem é de Direita, por muito que lhe desagrade há sempre um natural sentimento corporativista de não querer perder o poder ou sequer de se assumir verdadeiramente contra os seus.
Pelo meio, a ideia de que isto vai mudar por duas razões: Santana Lopes vai perder e o PS vai ganhar. Significa isso que a facilidade aparente deste momento eleitoral poderá levar ao facilitismo e consequente falhanço na conquista da maioria absoluta por banda do PS.
É deste balanço que vai surgindo bastantes dúvidas à obtenção por parte do PS de uma maioria absoluta, em que nem o próprio Jorge Sampaio parece acreditar.

Perspectivas [Outono e as margens do Douro XIX]


A chegar à Foz, com barcos aprisionados às margens.

j.marioteixeira@sapo.pt

O Direito Público e o Torto Privado [II]

Pelo que afirma Vital Moreira no Causa Nossa, este comunicado da Universidade Católica conterá muita poeira para atirar aos olhos, tal como:
[…]
Num volte face anómalo e injuridíco, foi nomeada uma Comissão ad hoc, constituída por um número exíguo e não suficientemente heterogéneo de membros (exclusivamente oriundos das Faculdades de Direito das Universidades de Lisboa e de Coimbra, com excepção do Prof. Freitas do Amaral, da Universidade Nova), a qual foi encarregada de propor as classificações aos vários cursos de Direito”.
[…]
Acresce que a avaliação e a classificação não foram levadas a cabo pela mesma entidade, estando substancialmente em causa a classificação feita pela tal subcomissão “ad hoc” atendendo, também, à sua composição.
Numa área tão sensível quanto esta, seria de esperar que o rigor e a uniformidade de procedimentos fosse algo acima de qualquer suspeita, que o estudo permitisse, até, a formulação de um “ranking” nacional. Como aliás é feito a nível do ensino secundário. Mas aqui não foi possível esse “ranking” exactamente porque, entre outras razões, “vários campos de observação não têm igual valor”.
A quem agrada, não se poupa elogios. Compreendo que a avaliação final agrade a Vital Moreira, tal como a quem vê o seu clube ganhar a arbitragem parece-lhe sempre isenta, mesmo quando não é. E isso também é um mau exemplo do futebol.

j.marioteixeira@sapo.pt

segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

Perspectivas [Outono e as margens do Douro XVIII]


Três pontes [Infante, Maria Pia e S. João], três passagens para "a outra margem".

j.marioteixeira@sapo.pt

Mudanças e conjunturas [I]

As necessidades conjunturais de mudança multiplicam-se. Após a decisão do Presidente da República [PR] em dissolver a Assembleia da República [isto é, não foi bem uma decisão, foi antes uma tomada de consciência falada um pouco alto], logo apareceram apologistas das alterações aos poderes constitucionais do PR de modo a que, no futuro, um PR não possa tomar semelhante caminho. E agora é o próprio PR, num momento de dúvida se o PS conquistará ou não a maioria absoluta, a defender o aumento de tempo das legislaturas e dos mandatos presidenciais, em nome das maiorias parlamentares estáveis [a mesma que dissolveu].
Há mais casos, infelizmente há, mas estes são particularmente graves pelo oportunismo [em oposição a sentido de oportunidade] e respectivas personagens.

j.marioteixeira@sapo.pt

O Direito Público e o Torto Privado

O estudo a que se reporta Vital Moreira no Causa Nossa acerca da avaliação das Universidades Públicas e Privadas em sede dos cursos de Direito, exemplifica como tem vindo a ser avaliado o Ensino Superior em geral: numa óptica eminentemente corporativista. A dita Comissão de Avaliação Externa dos Cursos de Direito bem como a subcomissão “ad hoc” que procedeu à classificação, eram dirigidas e compostas, na sua larga maioria, por quem é docente ou se formou nas Universidades Públicas.
Aliás, esta afirmação do próprio relatório é bem elucidativa:
“[…] vários campos de observação não têm igual valor”.
Ora, que tipo de isenção na avaliação/classificação se pode esperar?
Acresce que Vital Moreira conclui, dizendo:
“[…] E a Ordem dos Advogados, em vez de defender a limitação do acesso aos cursos de Direito, deveria era lutar contra a má qualidade de vários deles”.
Está mal informado quanto à actuação da Ordem dos Advogados [OA] nesta área. Foram muitos os alertas e as iniciativas da OA nesta matéria, desde o Bastonário Pires de Lima. E desmistifique-se parte do dogma que se esconde por detrás disto: à época e no grupo em que fiz exame de agregação à OA, foram os candidatos oriundos de universidades privadas que tiveram as melhores classificações finais.
Se há vontade de avaliar com seriedade o estado do ensino de Direito em Portugal, comece-se por dar real representatividade à composição da comissão de avaliação e honestidade aos critérios de avaliação, de modo a que a mesma se sustente em valores idóneos de autonomia, isenção e imparcialidade. Aliás, como deveria ser sabido por quem é da área, é de Direito…

j.marioteixeira@sapo.pt

sexta-feira, 7 de janeiro de 2005

“ENTREMOS NO CONCRETO…” [?!]

Depois do que se passou aqui , bem como aqui , e aqui , Guilherme D`Oliveira Martins publicou hoje na Casa dos Comuns um artigo intitulado “ENTREMOS NO CONCRETO…”.
Desta forma, sou a informar do conteúdo do meu comentário:

Caro Deputado Guilherme D`Oliveira Martins.
Parece-me que este seu artigo visará responder a uma ideia minha aqui deixada ontem. Perdoe-me a possível altivez de tal conclusão, mas o título assim sugere.
Ora, partindo daquele pressuposto, com a frontalidade que julgo ser reciprocamente apreciada, afirmo que não vislumbro uma única solução concreta, uma única medida concreta, nas oito matérias que aborda. Em todas elas, reporta-se a referências doutrinárias e, partindo delas, apresenta linhas de orientação que, no seu conjunto, merecem a minha concordância. Mas convenhamos:
1 - Pierre Rosanvallon, cujos estudos sobre o Estado Francês e o seu modelo político são uma referência, as suas obras [“L`Etat en France” ou “Le modele politique français”] enquadram-se no âmbito do estudo académico.
2 - Alexis de Tocqueville é um eminente estudioso do Sec. XIX da democracia norte-americana e do seu sistema prisional. Defensor do estatuto da cidadania e das conquistas que se seguiram à Revolução Francesa. Do ponto de vista doutrinário é uma excelente referência. Mas continuamos no campo doutrinário.
3 - Norberto Bobbio, filósofo italiano falecido o ano passado, cuja leitura das ideologias, da ciência política, dos fundamentos normativos da democracia e da actualidade dos pressupostos progressistas expressos na sua obra “Teoria Geral da Política” é, sem dúvida, fantástica, mas não nos diz concretamente o que fazer.
Todas estas referências são importantes para traçar orientações, apontam caminhos, mas no concreto, matéria a matéria, a questão permanece: o que fazer?
Só aquilo que designou por “Novos compromissos” exige soluções a problemas que continuamos a ter em Portugal. A “República dos cidadãos livres” importa, entre outras coisas, por exemplo, a descentralização do poder, a operância do sistema judicial, incutindo responsabilidade e celeridade; ou a tributação de rendimentos com respeito pela equidade e pela proporcionalidade e o combate exemplar à fraude e à evasão. Que são, também, rumos, não são, em concreto, soluções. São os fins, e não os meios. São objectivos e não políticas concretas.
Mesmo assim, é algo bem mais concreto do que enquadrar as questões nacionais em termos doutrinários ou no âmbito das convergências dos Estados-membros em sede do Projecto Europeu. Há que, pelo menos, definir os problemas para concretizar-se soluções. Sem isso, Portugal irá manter concordâncias redundantes: de acordo quanto aos problemas mas sem soluções/decisões objectivas, tipo:
- Acabar com as médias absurdas de entrada no curso de medicina, para depois contratar médicos de fora do país;
- Acabar com os monopólios das farmácias;
- Revogar o actual Código das Custas Judiciais de molde a possibilitar um verdadeiro acesso ao Direito e à Justiça;
- Fechar os cursos que neste momento não têm saída profissional, para os quais não há mercado e apenas servem para gastar recursos e formar desempregados; etc
”.

j.marioteixeira@sapo.pt

Fora-de-jogo da informação ou a relativa novidade

Notícia de 21 de Dezembro de 2004:
Os golos mal anulados pelos árbitros-assistentes recorrendo à lei do fora-de-jogo podem ter uma explicação científica. Um estudo publicado pela prestigiada revista "British Medical Journal" revela que o olho e o cérebro humanos não são capazes de processar a informação visual necessária para aplicar com exactidão aquela regra, pois não conseguem acompanhar fielmente esses lances”.
[…]
Francisco Maruenda dirigiu este estudo científico que conclui ser "impossível" a um árbitro apreciar o "fora-de-jogo". Justificando as muitas falhas nos jogos de futebol. Este estudo já foi enviado à FIFA e à UEFA e foi subscrito por 127 cientistas que pedem a anulação ou alteração das regras do fora-de-jogo do futebol mundial”.
[in Público]

Notícia de 18 de Dezembro de 2004:
Football is regulated by rules. One referee and two assistant referees direct every game. When the rules are not applied correctly, the final result may be affected. This is often blamed on human error, but is this always true? In this review I analyse the physiology of the human eye to clarify if it is able to process all the information required to apply effectively one of these rules, the offside position”.
[…]
By reviewing the physiology of the eye movements likely to be involved in assessing an offside position, I have shown that the relative position of four players and the ball cannot be assessed simultaneously by a referee, and unavoidable errors will be made in the attempt. The use of modern technology during games—freeze frame television and frame by frame analysis—is advisable to limit these errors”.
[in British Medical Journal]

Notícia de 17 de Junho de 2003:
Es imposible que un juez de línea pueda apreciar adecuadamente un fuera de juego. Esta es la conclusión de un estudio realizado por Francisco Belda Maruenda, médico del Centro de Salud de Alquerías, en Murcia, que basa sus conclusiones en el estudio del tiempo de reacción del ojo, al que le es imposible fijar la atención en tres lugares a la vez -balón, jugador que recibe y defensa- casi al mismo tiempo”.
[in Diário Médico]

Estas coisas de notícias e de novidades, são muito relativas…

Perspectivas [Outono e as margens do Douro XVII]



Lá no alto, periclitante. Até quando?

j.marioteixeira@sapo.pt

quinta-feira, 6 de janeiro de 2005

As cicatrizes de Rhea



Desvendadas por essa "perscrutora" chamada Cassini-Huygens.

j.marioteixeira@sapo.pt

O lado humano de uma sonda espacial

Porque é mais do que merecida a referência, aqui estão Nathan Strange e Troy Goodson, da equipa de navegação da Cassini-Huygens.

j.marioteixeira@sapo.pt

Vale a pena [XIX]

Ver Jon Stewart no Crossfire. Algumas lições interessantes cerca do jornalismo televisivo norte-americano.

Esta coisa…

Esta coisa de falar mal do futebol, está na moda.
Esta coisa de se falar em separação de futebol da política, fica bem.
Esta coisa de se atacar “interesses instituídos” fazendo a guerra a clubes de futebol, parece coisa séria.
Esta coisa só não explica como é que só os processos judiciais contra figuras ligadas ao futebol, avançam: Vale e Azevedo, Pimenta Machado, Valentim Loureiro, Pinto da Costa, etc.
Talvez porque não sejam autarcas com contas bancárias na Suíça em nome de sobrinhos; ou sindicalistas envolvidos em fundos europeus para formação profissional; ou porque não se trata de deputados envolvidos em “viagens fantasma”; etc.
Talvez porque a moralização social tem de começar por algum lado, e calhou de começar pelo mundo da bola.
Deve ser por isso…

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Outono e as margens do Douro XVI]


Duas pontes, duas gerações.

j.marioteixeira@sapo.pt

quarta-feira, 5 de janeiro de 2005

Sinais dos tempos de hoje [IV]

Este fim-de-semana, li uma frase de muro clássica: “Abaixo o governo!”. De cor desbotada, de um vermelho já pálido e disforme, lá continua agarrada a um muro de uma fábrica encerrada há muito, voltada para a estrada. Era assim. O governo não agradava, não importa porque razão, logo se pedia a sua queda. O furor dos brados revolucionários deu calor às palavras de ordem, mas com o passar do tempo foi-se diluindo.
Hoje não fica bem pedir a demissão do governo, não faz parte do actual conceito de discussão política, muito mais urbano, muito mais dialéctico e conceptual. Outras tantas vezes conjuntural. Excepto para o PCP ou o Bloco de Esquerda, ainda mais arreigados à génese da frase do muro.
Agora o método é o do desgaste de governação ou da liderança partidária, aguardar pelo enfraquecimento do adversário. Uma vez enfraquecido, desgastado, desacreditado, a mudança torna-se quase inevitável. A mudança surge como alternância, como quem muda de turno. A engrenagem, essa pouco se altera.

j.marioteixeira@sapo.pt

Perspectivas [Outono e as margens do Douro XV]


De regresso ao Douro, às suas margens e às casas encasteladas. Tal como uma cascata são-joanina.

terça-feira, 4 de janeiro de 2005

Perspectivas [o "Outdoor" mais caro do mundo]


Ainda vai havendo coisas boas das quais nos podemos orgulhar. Uma delas é esta: temos o "Outdoor" mais caro do mundo!
E ainda diziam as más-línguas que não se sabia qual era a utilidade daquele monstro.
Mouros...

j.marioteixeira@sapo.pt

Sistema eleitoral: os deputados e a [falta de] territorialidade [III]

Continuando o que escrevi aqui:
A actual roda-viva das escolhas de nomes para as listas do PSD e do PS, demonstra claramente que as selecções são vocacionadas para um dado círculo eleitoral e de modo a “caçar” o voto com base na estrela de cartaz que consiga despertar “paixões”, sem qualquer compromisso ou responsabilização.
Vale o mesmo dizer 3 coisas:
1 – Que as campanhas eleitorais se irão fazer em volta de personalidades e não de ideias;
2 – Que continuaremos a ter um combate à volta de nomes e não de soluções;
3 – Que os problemas continuarão a existir tal como a falta de coragem para reformar o que é necessário.
Nada de novo.
Ninguém tenha dúvidas que mesmo depois de uma campanha de hipócrita moralidade pela separação entre futebol e a política, a “caça” ao voto passará imperativamente pela sedução dos adeptos, por isso a inclusão de nomes sonantes do mundo clubístico. É para isso que muito bem servem os actuais círculos eleitorais: a manipulação populista e demagógica das massas, sem qualquer responsabilização à posteriori. O palco ideal para a disputa política sem ideias, o confronto sem soluções.
Passadas as eleições, contados os votos e definidas as posições, voltar-se-á a defender a tese moralista da separação entre o futebol e a política, metendo-se à mistura a alegada batalha aos interesses instalados no país e nas cidades. Mas isso é depois, pois agora tudo vale.

j.marioteixeira@sapo.pt

segunda-feira, 3 de janeiro de 2005

Perspectivas [Outono IV]



A neblina da manhã, numa vale minhoto.

j.marioteixeira@sapo.pt

Elementos essenciais da notícia catastrófica

Tudo começa por uma evento trágico que abre os telejornais e que irá preencher as primeiras páginas dos jornais, durante dias ou mesmo semanas. Ao momento da “estreia”, há desde logo preocupações essenciais:
1 – Localizar a catástrofe;
2 – Quantificar as vítimas [com maior relevo paras as mortais];
3 – Aferir se há portugueses entre as vítimas [o que é normal, porque há portugueses espalhados pelo mundo inteiro].
4 – Acompanhar qualquer relato com as imagens chocantes que estejam disponíveis no momento, repetindo-as até à exaustão.
Entretanto, começa a correria desenfreada atrás dos vídeos amadores, para que mais imagens disponíveis de medo, terror, dor e sofrimento consigam transmitir a magnitude da desgraça [que importa que seja grande].
Surgem as primeiras divulgações das contas bancárias onde se podem fazer donativos, a par dos apoios governamentais. As primeiras imagens dos contentores de ajuda humanitária e da sua distribuição
Ao mesmo tempo que se enviam repórteres para o local que tentam, eles próprios, personificar a catástrofe sucedida, e que vão fazendo perguntas às vítimas tipo “teve medo?” ou “o que sentiu na altura?”
Depois do primeiro impacto, temos as actualizações:
1 – Do número de vítimas;
2 – Do número de portugueses atingidos;
3 - Das causas da desgraça;
4 – Os relatos dos enviados, ora com imagem ora por telefone.
À medida que as imagens se vão gastando pela passagem sucessiva aos olhos dos telespectadores, começa-se a apurar eventuais responsabilidades humanas na desgraça que, afinal, não teve só a ver com causas naturais.
Mais tarde, já sem imagens novas ou relatos desesperados, é tempo de mudar de assunto.

j.marioteixeira@sapo.pt

Começando por Janeiro

O primeiro mês do calendário gregoriano, é composto por 31 dias e, juntamente com Março, foi o último mês a ser introduzido no calendário.
É o mês em que na lavoura se semeia as favas e as ervilhas, as couves e as nabiças. É também tempo de semear lírios e begónias.

j.marioteixeira@sapo.pt