Bem-haja quem sonha
Todavia, estranho que Vital Moreira considere “masoquismo” a atitude daqueles que persistem em tentar mudar o Partido de que são militantes. Conheço alguns que o querem e não são masoquistas, mas antes acreditam no que fazem, acreditam na militância e acreditam na transformação. Aliás, ser comunista é, também, acreditar na capacidade de transformar. É essa a crença daqueles que persistem na sua luta de transformar o PCP.
Com um património assim, de que muitos militantes comunistas são ainda portadores pessoais, parece-me natural que haja ainda quem sonhe com a mudança, que esteja disposto a lutar por ela. É tão legítimo querer lutar pela mudança, malgrado a realidade e as reacções, quanto é legítimo abandonar por não se identificar mais com o Partido [seja em termos organizacionais, de aparelho, doutrinários ou programáticos]. Por isso, não concordo que se rotule uma ou outra decisão com o que quer que seja.
Não tenho um conhecimento profundo acerca da máquina comunista. Conheço alguma coisa, conheço algumas pessoas, tenho alguma experiência do que vi, assisti e li, e, também, do que me contaram e contam. Mas sei que há militantes que anseiam pela mudança. Por uma mudança que transforme o PCP por si mesmo e não para o aproximar de quem quer que seja. É esta a visão de muitos deles, eles lá sabem porquê.
Confesso que gosto de gente que sonha, que acredita que é possível transformar. Porque os grandes avanços da humanidade foram possíveis por haver gente assim. Admiro a sua capacidade de luta e de sacrifício. Se o conseguem ou não, isso são questões que muitas vezes é o tempo a dar a resposta, e não o homem.
Será a minha visão excessivamente romântica? Acredito que sim. Mas ainda hoje gosto de ouvir Manuel Freire cantar a “Pedra Filosofal”, o poema de António Gedeão [Rómulo de Carvalho]. Um dia, é possível que também me transforme. Um dia, é possível que se acabe com a utopia. Veremos.
j.marioteixeira@sapo.pt